Gilvander Luís Moreira
Em
tempos de Campanha da Fraternidade sobre saúde pública – CF/2012 -, a
EMBRAPA pediu liberação do herbicida Glifosato também para a cultura da
mandioca. Essa é uma lamentável notícia que exige, no mínimo, sete
breves comentários.
1 - A EMBRAPA é uma das empresas públicas
que mais recebem dinheiro das transnacionais para investimento em
pesquisas, melhor dizendo, aperfeiçoamento tecnológico na produção
agropecuária. Um ditado popular diz: "quem paga a banda, escolhe a
música", ou seja, grande parte das pesquisas feitas pela EMBRAPA no
último período tem sido para beneficiar as grandes empresas do ramo de
agrotóxicos, como a própria MONSANTO que no ano de 2010 passou para a
EMBRAPA nada menos que R$ 5,9 milhões para investir em pesquisas para os
próximos 3 anos (2011, 2012 e 2013).
2- O Glifosato é um
herbicida sistêmico não seletivo, ou seja, mata qualquer tipo de planta,
exceto aquelas geneticamente modificadas para resistir ao glifosato,
como é o caso das plantas (soja, por exemplo) com a marca RR (Roundup
Ready), produzida pela MONSANTO. Um dos agrotóxicos mais vendidos pela
Monsanto no país é o Roundup, que tem como principal ingrediente o
glifosato.
3 - O uso massivo do glifosato tem provocado a
aparição de resistência por parte de algumas plantas, levando a um
aumento progressivo das doses usadas, e assim a uma desvitalização e
perda de fertilidade da terra, afinal o herbicida elimina também,
bactérias que são indispensáveis à regeneração do solo e manutenção de
sua fertilidade. Este processo faz com que a cada dia aumente o uso de
fertilizantes químicos, que alimentam as plantas e não fertilizam a
terra, aumentando ainda mais o ciclo vicioso. Só no ano passado (2011),
as importações brasileiras de fertilizantes (20,7 milhões de toneladas)
somaram um gasto de 9,1 bilhões de dólares. Quem está mesmo ficando com
os lucros e quem está ficando com os prejuízos?
4 - Rubens
Onofre Nodari, agrônomo, mestre em Fitotecnia e doutor pela University
Of California At Davis, professor na UFSC, afirma que além dos problemas
no meio ambiente, o glifosato traz problemas à saúde pública, como o
aumento da incidência de certos tipos de câncer e alterações do feto por
via placentária. Reduz a produção de progesterona e afeta a mortalidade
de células placentárias atuando como disruptor endócrino, ou seja, ele
aciona genes errados, no momento errado, no órgão errado. O glifosato
também causa, por exemplo, diminuição da produção de espermas, conforme
vimos em experimentos feitos em ratos, ou produz espermas anormais. No
caso do sistema endócrino, ele pode, por exemplo, inibir algumas
enzimas. Ele vai alterar os hormônios que entram na regulação da
expressão gênica.
5 - Desta forma vemos que a EMBRAPA, criada no
início da década 70 do século XX, em plena ditadura, pelo então
presidente Médici (que já fazia parte das estruturas criadas para dar
suporte à imposição da chamada "Revolução verde", agricultura altamente
mecanizada, que por sua vez impôs sobre a agricultura o lixo da 2ª
Grande Guerra, incluindo, além de máquinas pesadas, armas químicas que
foram transformadas em agrotóxicos) segue ainda hoje cumprindo o papel
de criar condições para o avanço do Capital na agricultura, na qual umas
poucas empresas lucram, melhor dizendo, furtam, e o conjunto da
sociedade fica com os problemas gerados, sejam eles sociais, ambientais e
até mesmo econômicos. Injustamente é a estrutura do Estado, que se diz
Democrático de Direito, atuando em favor do Agronegócio e
consequentemente em favor do beneficio das empresas transnacionais que
dominam a produção e comercialização de agrotóxicos.
6 - Vamos
deixar o Brasil se tornar a maior lixeira tóxica do mundo? O Brasil já é
o campeão mundial no uso e consumo de agrotóxico. Confira o
Filme-documentário “O Veneno está na mesa”, do diretor Sílvio Tendler.
Por esse motivo, o deputado federal Padre João (do PT) está travando uma
batalha na Câmara Federal contra o uso de agrotóxicos.
7 – É
inadmissível que a EMPRAPA continue com projetos de melhoramento na
produção agropecuária que fortalecem os projetos das empresas
transnacionais, agridem o meio ambiente e adoecem o povo brasileiro. A
coluna mestra da EMBRAPA deve ser pesquisar nas áreas de agricultura
familiar, com adubação orgânica. A EMBRAPA precisa assimilar em todas
suas pesquisas o paradigma da Agroecologia. Só assim estará contribuindo
para que a saúde se difunda por todo Brasil.
Enfim, quase todos
os venenos devem ser proibidos. O uso deles só é tolerável como exceção
e não como regra geral, o que lamentavelmente vem acontecendo. Roundup e
muitos outros agrotóxicos são desenvolvidos para matar, não fazem parte
da ética da vida. Há uma aliança macabra não confessada entre o
agronegócio e a indústria farmacêutica. Produz-se alimentos envenenados
para adoecer as pessoas e, assim, jogá-las nas garras da indústria
farmacêutica que é a segunda que mais lucra, melhor dizendo, furta -
após a indústria bélica. Em nome da Campanha da Fraternidade sobre Saúde
Pública repudiamos a liberação do glifosato para a mandioca e todos os
seus derivados.
Frei Gilvander é padre carmelita;
mestre em Exegese Bíblica; professor Teologia Bíblica; assessor da CPT,
CEBI, SAB e Via Campesina; e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.br – www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis - facebook: gilvander.moreira
Fonte:http://eranordeste2012.blogspot.com.br/2012/03/embrapa-servico-da-monsanto-e-das.html
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