terça-feira, 24 de julho de 2012

Campanha contra os agrotóxicos lança carta-compromisso aos candidatos




Por José Coutinho Júnior, Da Página do MST
Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e Pela Vida lançou uma carta compromisso pelo fim dos agrotóxicos e a favor da agroecologia aos candidatos à prefeito e vereador nas eleições deste ano.
Além de mostrar os males que os agrotóxicos causam na sociedade brasileira, a carta pede aos candidatos que se comprometam com três temas: que os candidatos, caso sejam eleitos, lutem para estabelecer uma legislação proibindo o uso dos agrotóxicos em seu município; a proibição da pulverização aérea e a construção de políticas públicas de incentivo à agroecologia.
Para Nívea Regina da Silva, da Direção Nacional do MST, a carta-compromisso é um instrumento de denúncia importante. “A carta serve como um diálogo com os candidatos, para que eles conheçam o problema dos agrotóxicos e as alternativas de produção, como o modelo agroecológico”. A carta será distribuída para candidatos nos 16 estados do país onde a Campanha está organizada.
Segundo a dirigente, ainda não se pensou no que fazer caso muitos candidatos se recusem a assinar a carta. “Vamos apresentar a carta para candidatos que mostram algum compromisso. As vezes, os candidatos não querem se comprometer com as pautas apresentadas, pois são posicionamentos difíceis de assumir, que conflitam com diversos interesses do agronegócio. Caso a recusa em assinar seja sistemática, talvez façamos uma declaração denunciando os candidatos que ‘envenenam nosso país’”.
Abaixo, Leia a Carta-Compromisso aos candidatos:
CARTA COMPROMISSO AOS CANDIDATOS E CANDIDATAS DA CIDADE DE ________________
Desde de 2008, o Brasil é o país que mais utiliza agrotóxicos em seu sistema de produção agropecuário. Consumimos cerca de 20% do total utilizado no planeta. São mais de 1 bilhão de litros jogados nas lavouras, representando cerca de 5 litros de venenos por habitante ao ano. Entre os tipos de venenos empregados em lavouras de nossos municípios, encontram-se substâncias já proibidas em vários países do mundo devido a seus efeitos nefastos no ambiente e na saúde da população.
Estamos falando, por exemplo, de agrotóxicos que têm na sua formulação princípios ativos como Endossulfan (banido em 45 países!), Cihexatina (proibida na União Européia e em países como a Austrália, Canadá, Estados Unidos, China, Japão, Líbia, Paquistão e Tailândia) e Metamidofós (proibido, por exemplo, na União Europeia, China, Índia, e Indonésia), entre outros, todos altamente tóxicos.
As consequências desse sistema, baseado no uso de alta quantidade de pesticidas, são sentidas em nível local, com problemas nos solos, nas águas e na vida dos habitantes da cidade. O aumento de doenças como o câncer e de problemas metabólicos e neurológicos constitui uma questão de saúde pública, e os sistemas de atendimento à população não possuem os meios adequados para diagnosticar e tratar tais doenças – sobretudo às decorrentes de intoxicações crônicas, contraídas por meio de exposição e ingestão regulares de pequenas quantidades de venenos por longos períodos.
Para preservar os bens naturais do município e garantir a soberania alimentar dos seus habitantes, é necessária a adoção de políticas públicas com ações que apontem para  o enfrentamento ao uso abusivo de agrotóxicos – bem como o empreendimento de ações que contribuam no processo de transição para a agroecologia, que se baseia na produção de alimentos sem venenos e em convívio com o meio ambiente. Tais políticas devem ter objetivos claros e metas específicas de curto, médio e longo prazos.
Assim, os signatários deste documento vêm solicitar que o Sr._____________________________ manifeste sua adesão aos compromissos elaborados pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.
Atenciosamente,
DECLARAÇÃO DE COMPROMETIMENTO
Eu,______________________________________________________________, candidato(a) a prefeito(a) (ou vereador/a)  da cidade de _________ (___) pelo Partido ___________________________, assumo a responsabilidade, caso eleito, de atender os compromissos listados a seguir e a considerar as recomendações propostas pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, durante a minha gestão.
COMPROMISSOS:
Estabelecer legislação proibindo o uso no município dos agrotóxicos e ingredientes ativos já banidos em outros países, em função dos problemas gerados na saúde e no ambiente.
Proibir a pulverização aérea de agrotóxicos no município.
Construir políticas públicas de incentivo à agroecologia, tais como formação para agricultores e assistência técnica, investimento econômico para propriedades que queiram fazer o processo de transição, política de compra de alimentos sem agrotóxicos, entre outras.
http://www.mst.org.br/Campanha-contra-os-agrotoxicos-lanca-carta-compromisso-aos-candidatos-as-eleicoes

3 mitos que você sempre ouviu sobre a agroecologia - mas ninguém teve coragem de negar



Errata: Vídeo produzido pela Oxfam, em parceria com a ANA, como parte da campanha Cresça - Comida, Justiça, Planeta, mostra como a agroecologia pode ser uma solução para vários problemas no mundo. 
Enviado por AS-PTA Agroecologia e Articulação Nacional de Agroecologia via facebook

terça-feira, 17 de julho de 2012

Participe da campanha “Adote um bacuri para sempre”

Conheça a campanha e seus os benefícios que ela pode trazer participando da 64ª Reunião Anual da SBPC, de 22 a 27 de julho


CHAPADINHA - O bacuri é uma fruta aromática, com polpa branca, baixa acidez, rica em vitaminas do Complexo B e sais minerais. É consumida diretamente ou utilizada na produção de doces, sorvetes, sucos, geleias, entre outros. O óleo extraído de suas sementes é usado na indústria de cosméticos e na medicina popular como anti-inflamatório e cicatrizante. Sua madeira resistente e de coloração bege-amarelada já foi muito utilizada na construção de embarcações e de casas, o que ainda é observado em muitas áreas de ocorrência natural. A fruta pode ser colhida nas Chapadas Maranhenses entre os meses de dezembro e março.

Consta na literatura que o bacuri é originário do Estado do Pará, no entanto, com grande dispersão nas regiões maranhenses da Baixada (Alcântara, Central, Mirinzal, Cururupu), Cerrados do Centro-Sul e no Baixo Parnaíba (Chapadinha, Santa Quitéria, Brejo). Esta fruta ganhou dimensão nacional e internacional, tornando-se a polpa mais cara do mundo. No mercado maranhense o valor é em torno de R$ 16 o quilo, enquanto no mercado europeu o preço pago pela polpa dessa fruta pode chegar a R$ 30.

Desde a década de 80, a paisagem natural das Chapadas Maranhenses vem sendo modificada. Os bacurizais estão sendo substituídos pelas plantações de grãos e madeiras utilizadas para a exportação, causando a destruição do reservatório genético desta espécie e de seus frutos que servem de fonte de renda para agroextrativistas. Pensando nisso o grupo Cio da Terra criou a campanha “Adote um Bacuri para Sempre”. O Cio da Terra, coordenado pela professora Maria Moura, é um grupo de pesquisa e extensão da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) nascido da parceria com a Associação de Moradores da Vila União, um povoado do município de Chapadinha, a 246 km de São Luís.

A ideia da campanha surgiu após a observação de que o Campus da UFMA em Chapadinha está rodeado de um grande número de bacurizais de tamanhos e idades diferentes e normalmente, não há recursos financeiros específicos para cuidar dessa espécie. Além disso, a procura pelo bacuri já supera a capacidade da produção atual.

A professora Maria Moura explica que o plantio do bacuri pode ajudar no combate a pobreza por ser uma alternativa excelente de fonte de renda para os agroextrativistas, que podem vender o produto na forma de sucos, geleias, bombons, entre outros ou ainda na forma de pomada com uso medicinal. “O plantio também pode ser importante no combate ao desmatamento visto que o bacurizeiro possui a característica ímpar de rebrotar, a partir de suas raízes. Se suas mudas forem manejadas de forma adequada (poda, espaçamento 10m x 10m) podem ser construídas várias miniflorestas”, explicou.

A adoção de uma muda para o cultivo dessa planta pode gerar emprego e permitirá a recuperação parcial de áreas desmatadas e abandonadas, e você pode participar da campanha adotando uma muda. Basta entrar em contato com o grupo Cio da Terra pelo e-mail gpciodaterra@hotmail.com.

Outra oportunidade de conhecer a campanha e os benefícios que ela pode trazer é participando da 64ª Reunião Anual da SBPC, que acontecerá em São Luís de 22 a 27 de julho, onde o CIO DA TERRA terá um espaço reservado para expor ações científicas e culturais. Um estande será montado no pátio do Colégio Universitário (COLUN), na UFMA, com exposição de livros e banners, além de produtos como pimentas, bombons, licores e pomadas feitas do bacuri. No local também será realizada uma homenagem ao compositor maranhense João do Vale, com a participação de Anderson Moz (estudante da UFMA e membro do grupo Cio da Terra) em voz e violão.

Não fique de fora e participe da campanha “Adote um Bacuri para Sempre”!

Cultivando agroextrativistas para o futuro



Por Maria Emilia Coelho

Trinta representantes de povos e comunidades tradicionais e indígenas de treze terras públicas localizadas no sul do Amazonas, sudeste de Rondônia, e noroeste do Mato Grosso, estarão reunidos no município de Humaitá, entre 18 e 31 de julho, para participarem do 1º módulo do Programa de Formação em Agroextrativismo e Cadeias Produtivas Sustentáveis.


O objetivo do programa é promover a discussão e o diálogo sobre modelos de desenvolvimento, sistemas de produção sustentável e construção de conhecimentos agroextrativistas. A ideia é incentivar a reflexão do grupo sobre sua própria realidade e cultura, transformando as lideranças comunitárias em pesquisadores locais dos seus processos de conquista de autonomia econômica.



Historicamente, as populações humanas que habitam e habitaram os ricos ecossistemas de floresta tropical aproveitam seus recursos, mantendo-os bem conservados e até incrementando sua biodiversidade. A produção sustentável sempre foi realizada pelas comunidades indígenas e tradicionais para autoconsumo, sendo o excedente escoado na forma de produtos primários, com baixa agregação de valor e grande dependência de atravessadores.



Hoje, as organizações comunitárias são seduzidas a produzirem para atender a um nicho de mercado altamente exigente e sofisticado. A inserção dos seus produtos nesses mercados exige amplo entendimento das comunidades sobre aspectos de gestão de negócios, comunicação, desenvolvimento e apresentação de produtos, logística, etc., temas ainda distantes da realidade vivida no campo.



Essa situação tem levado um número crescente de capacitações focadas na organização da produção de agroextrativista, no intercâmbio de técnicas e tecnologias para a melhoria dos seus produtos, e na estruturação de cadeias produtivas. Durante os últimos anos, o IEB tem trabalhado para ampliar a participação de lideranças locais e membros de comunidades neste processo.



O Programa de Formação em Agroextrativismo e Cadeias Produtivas Sustentáveis faz parte das atividades do projeto “Conservação da Biodiversidade em Terras Públicas na Amazônia”, uma parceria do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) com cinco organizações não governamentais socioambientais: Kanindé, ECAM, Associação Metareilá, CSF e OPAN; com o apoio do Programa de Meio Ambiente da Missão da USAID no Brasil.



O programa é itinerante, composto por três módulos realizados em municípios distintos da região sobre a qual o Projeto incide e dirigido a um grupo fixo de participantes oriundos de oito Terras Indígenas (Sete de Setembro, Igarapé Lourdes, Jiahui, Caititu, Jamamadi e as TIs Paumari do rio Tapauá) e cinco Unidades de Conservação de uso sustentável (Reservas Extrativistas Ituxi, Médio Purus e Capanã Grande, Floresta Nacional Humaitá e Reserva de Desenvolvimento Sustentável Rio Madeira). Essas áreas protegidas somadas cobrem cerca de três milhões de hectares de floresta amazônica.



O primeiro módulo será focado nos sistemas de produção, o segundo nas boas práticas de manejo de recursos naturais (florestais e pesqueiros) e o terceiro módulo na comercialização e mercado de produtos agroflorestais.
Publicado em 15 de julho de 2012
Link original: http://www.iieb.org.br/?/noticias/todos/1/171
Enviado Por IDESAM via Twitter

domingo, 15 de julho de 2012

A Carne é Fraca - crueldade da industria de carne financiada por nós carnívoros mal informados


Enviado por Tania Pacheco, http://racismoambiental.net.br/2012/07/a-carne-e-fraca-documentario-sobre-os-custos-ambientais-da-pecuaria-principalmente/comment-page-1/#comment-8750

sábado, 14 de julho de 2012

NÃO DÁ PRA SER VIZINHO DE SOJEIRO!!!!!



Companheiros do Maranhão relatam os impactos da soja na agricultura familiar camponesa com o aumento de insetos.Os sojeiros  vão cercando as propriedades e causando muitos estragos nas plantações.
Parabéns ao Seu Vicente por resistir heroicamente e permanecer na sua terra, garantindo nossos bacuris !!!!
Adificuldade de conviver com a soja vem sendo denunciada em vários lugares. Em Santarém/Pará, agricultores relatam o aumento de vários tipos de insetos e a queda da produtividade, fora o mal estar das pessoas pela poluição dos produtos. Aqui no nordeste paraense o consumo de agrotóxicos é grande e assustador!!! Muita gente (empresários, camponeses, sitiantes) costuma usar periódicamente formicidas e o glifosato (mata mato), este de baixo custo pois têm incentivo do governo, isenção de impostos, economiza trabalho na capina e muita gente ainda não acredita que faça mal à saúde. Usam sem proteção, jogam as embalagens no tempo, nos igarapés...e não se vê por aqui um trabalho consistente de conscientização dos males e divulgação de técnicas alternativas.

Vejam o o caso do Maranhão por Mayron Regis- Fórum Carajás

"O GIGANTE GENTIL"

De uma hora para outra surgiram formigas na horta do Vicente, o "Gigante Gentil" da comunidade de Carrancas, município de Buriti de Inácia Vaz. Elas permaneciam próximas às margens do rio Preto. Ele não sabia responder o porquê dessa erupção de formigas. Vicente não se dava conta, mas pagava um preço pelo desmatamento de uma área vizinha a sua para que um “gaúcho” plantasse soja. Antes a mata fechada e os predadores naturais impediam que as formigas saíssem do seu habitat. A área permeada de agrotóxicos é proibitiva para elas, então sobrou para horta de Vicente ser atacada. O que resta ao Vicente é esperar que as formigas se tranquilizem em sua área e pulverizar sua horta com defensivos naturais. 
Esse é um dos exemplos de desequilíbrio ecológico que a monocultura da soja trouxe para o Baixo Parnaiba maranhense e para a agricultura familiar. Os agricult ores familiares podiam entrar na onda dos agrotóxicos que estaria tudo bem, pelo menos, para as fabricantes de agrotóxico e para o governo federal que recolhe impostos. As organizações da sociedade civil aconselham aos agricultores para não aderirem ao mercado dos agrotóxicos por mais tentador que seja.
Outro conselho dado ao Vicente foi que recusasse a proposta do André, plantador de soja, de trocar seus 160 hectares de Chapada por uma colcha de retalho de várias propriedades. Ele conta o tanto de vezes que seu primo Mazinho, funcionário do André, ia a sua casa para convencê-lo a aceitar a proposta. De forma inteligente, Vicente pediu um valor muito alto que fez com que o André recuasse. Depois disso nunca mais o primo Mazinho deu as caras. Só se sabe que levou uma sova da esposa.
Com a recusa da venda da terra, Vicente levou adiante o projeto de manejo de bacuri em sua área, financiado com recursos do Centro de Apoio Sócio Ambiental, e a construção de um galinheiro em conjunto com mais nove pessoas, financiado com recursos da agencia de cooperação alemã ASW.   Caso Vicente e seu irmão tivessem aceito a proposta do André seria menos uma propriedade da agricultura familiar e os perigos da monocultura se avantajariam sobre os demais proprietários. O modelo implantado na Chapada do Vicente vem sendo imitado em outras propriedades da comunidade de Carrancas principalmente na compra da forrageira que possibilita a diminuição dos custos na criação de animais.
Mayron Régis
Enviado por Edmilson Pinheiro,www.forumcarajas.org.br

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Viva a resistência dos Kayapó, dos Xicrim, dos Araras, dos Txucarramãe!

Não deixemos a vida dos ribeirinhos do Xingu ser dizimada! Viva a resistência dos Kayapó, dos Xicrim, dos Araras, dos Txucarramãe!


Clique para ver o filme "Belo Monte: Anúncio de uma Guerra”. Excelente!
Clique em Raoni y los representantes de los pueblos indígenas del Xingu (Brasil) piden apoyo internacional contra el proyecto de presa hidroeléctrica de Belo Monte para ASSINAR A PETIÇÃO!!!
Enquanto a gente mobiliza a campanha de apoio à luta dos povos ribeirinhos e a favor da floresta e das águas da Amazônia, o governo e as empreiteiras continuam destruindo a floresta para transformar quase 600km2 num grande mar, a terceira maior represa do mundo!
Desenvolvimento para QUEM? E para QUE?
BELO MONTE já está sendo uma punhalada na imagem de país ecológico que o Brasil tem propagandeado pelo mundo afora.
A alternativa, muito mais barata, é a reforma e atualização das represas já existentes! Isto dizem os peritos do setor elétrico. Só esta reforma já elevaria a produtividade das atuais represas a ponto de não serem necessárias novas!
Fonte:  http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=68701

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Boaventura Santos: 'Economia verde é um cavalo de Troia'

Sociólogo português participou de debates na Rio+20
Por Maíra Mathias
Da EPSJV/Fiocruz
Para Boaventura de Sousa Santos, a RIO + 20 demonstra que a sociedade não tem razões para ter esperanças nos governos e que o momento é de união de agendas entre as esquerdas.
Cumprindo uma extensa agenda de compromissos na Cúpula dos Povos desde o dia 14 de junho, quando participou da oficina 'Saúde, sustentabilidade e bien vivir' promovida pela Universidade Popular de Movimentos Sociais em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos participou de duas atividades de conversa com os participantes do evento no Aterro do Flamengo nesta terça-feira (19). Quem foi ao Clube Boqueirão, na mesa organizada pela ONG italiana A SUD, e em seguida à tenda da Economia Solidária pôde ouvir um balanço antecipado da conferência oficial e seus (fracos) resultados, assim como uma reflexão sobre as esquerdas no cenário político atual. Para Boaventura, os movimentos sociais e organizações que atuam em defesa da justiça ambiental e social precisam, mais do que nunca, se unir em agendas agregadoras expressadas por meio de campanhas únicas.

Rio + 20

Para Boaventura, a conferência oficial das Nações Unidas foi capturada por interesses privados, que travam a discussão e pode ser comparada ao Fórum Econômico Mundial, baseado em Davos na Suíça, que reúne todos os anos chefes de Estado e grandes empresários. "A novidade de 2012 em relação à 2001 é que naquele ano, o Fórum Econômico Mundial se realizou em Davos, enquanto que Porto Alegre sediava a primeira edição do Fórum Social Mundial. Hoje, o Fórum Econômico está acontecendo no Riocentro e o Fórum Social no Aterro do Flamengo. Entre nós, um oceano de morros e táxis, um oceano de apartheid social que o Rio turístico esconde", criticou.

O sociólogo comparou a principal proposta da ONU para a Rio + 20 - que prevê mecanismos de financeirização da natureza e é conhecida como economia verde  - ao presente de gregos a troianos. "É um Cavalo de Tróia instalado na praia, é invisível e enorme. A economia verde é a cortina de fumaça que estão estabelecendo a nossa volta, porque é a melhor maneira para o capital global, financeiro, sobretudo, ter acesso à gestão dos recursos globais".
Mais:
Seguindo a conturbada negociação do documento da Rio + 20, intitulado 'O futuro que queremos', Boaventura acredita que o texto sai esvaziado. "Nem as propostas do G77 [bloco formado pelos países em desenvolvimento] mais China vão poder ser aprovadas. O grande Fundo do Desenvolvimento Sustentável foi recusado. O acesso universal à saúde foi recusado pelos Estados Unidos. A alteração dos sistemas de governo do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional, do Conselho de Segurança obviamente nem a Europa nem os Estados Unidos querem ouvir falar", enumerou, completando: "Penso que é um retrocesso em relação à 1992, que produziu compromissos obrigatórios, se seguiram as convenções e por outro lado as responsabilidades comuns diferenciadas, isto é, os países ricos têm que pagar mais porque poluem mais e há mais tempo, nada disso é neste momento pacífico.

Por todas essas razões, o sociólogo português sustenta que não temos muitas razões para ter esperanças no plano intergovernamental e destaca o papel que a Cúpula dos Povos desempenha para dar voz às demandas e críticas da sociedade civil mundial. "O que mudou de positivo em relação à 92 é o que se passa na Cúpula dos Povos. Nós temos hoje consciência socioambiental, existem organizações, movimentos mais fortes do que antes. Por exemplo, a agenda socioambiental começa a ser transversal e entra em movimentos como o Sintagma na Grécia, dos indignados em Madrid, dos jovens urbanos da Inglaterra e também no Ocuppy Wall Street. Em todos eles, a questão ecológica aparece de maneira profunda, como o Bem Viver. A maneira como se organiza a vida cotidiana nos acampamentos é um testemunho de outra maneira de viver e estar com a natureza, um modelo que tem como horizonte a justiça social e ambiental", destacou.

Ecologia de saberes

No entanto, Boaventura acredita que ainda não temos uma nova cultura socioambiental. Para chegar lá, ele sustenta que é preciso resgatar os fundamentos da economia política. "Não adianta pensar que a luta de classes não é importante porque já vimos que o colonialismo, o sexismo e o capitalismo andam junto, portanto, não faz sentido lutar pelo meio ambiente se não se luta pelas comunidades quilombolas, pelos territórios dos indígenas, pelos povos de rua, pela seguranças dos travestis, contra os massacres de homossexuais", citou.

Elementos de todas as culturas dos povos articulados ao conhecimento produzido nas universidades podem criar uma nova economia de saberes, necessária, segundo o sociólogo, para alcançar novas formas de pensar o poder e a democracia. "A Constituição da Bolívia diz que há três formas de economia: privada, pública e comunitária. E há sete formas de propriedade, dentre elas a pública, a comunal, a privada, a associativa, a cooperativa. Ou seja, pluralizar as economias. A mesma Constituição também diz que as formas da democracia são várias: representativa, participativa, comunitária. Nas nossas teorias eurocêntricas, nunca nos demos conta que para além da democracia representativa e da participativa poderia existir a comunitária. É a democracia das populações ribeirinhas, dos indígenas, das populações quilombolas", disse.

Para ele há uma "demodiversidade", uma diversidade de democracias que circulam na sociedade com uma diversidade cognitiva de saberes, uma diversidade de poderes. "Seria um erro grave pensarmos que podemos transformar o mundo sem tomar o poder, agora não podemos transformar o poder sem mudar o poder". Nesse sentido, Boaventura acredita que os partidos, os movimentos e organizações sociais não são as únicas formas de fazer política. "Os indignados mostraram que nós da esquerda tínhamos sido muito elitistas porque sempre consideramos que para fazer política era preciso estar organizado em partido, sindicato, movimento social ou ONG, não levando em conta que esmagadora maioria da população não está organizada em partido não é membro de movimento ou associação. E olhamos para eles como se fossem despolitizados. Ora é essa gente que hoje está na Ocuppy Wall Street. Nós negligenciamos qual é o patamar a partir do qual a indignação é tão grande que a pessoa sai à rua. Temos que estudar onde está o patamar de indignação", propôs.

Agendas agregadoras

Boaventura relatou que a maior lição tirada da atividade organizada pela Universidade Popular dos Movimentos Sociais foi a necessidade de construir agendas agregadoras. Ele relatou o caso do representante dos moradores de rua que, a princípio, não queria se articular com representantes de outros movimentos populares no encontro. "Eu perguntei: Porque não se uniu? Quanta gente do LGBT, quantos travestis não vivem na rua? Ao fim da atividade, o Samuel do movimento da população de rua estava articulado não só com o LGBT, mas também com o movimento de educação popular da saúde porque tinha chegado à conclusão que a luta dos povos de rua se integra ao SUS em pontos muito específicos. Portanto, nós temos um problema em articular as agendas".

Para ele, o grande desafio é identificar quais são essas agendas agregadoras nas quais devemos nos concentrar. "A agenda socioambiental é agregadora, mas ela por vezes é muito vaga", pontuou. O sociólogo acredita que lutas agregadoras são aquelas em que populações do campo e da cidade conseguem confluir suas demandas. O professor citou o exemplo do norte da Colômbia, onde a luta contra a privatização da água articulou camponeses com moradores da cidade, todos à favor do acesso à água potável por um bom preço. No Brasil, Boaventura acredita que a campanha contra os agrotóxicos e pela vida pode ter essa dimensão. "O agronegócio se assenta no conceito de produtividade, que consiste em extrair o máximo da terra em um ciclo de produção. Essa é a diferença para a agricultura camponesa porque o camponês extrai o máximo da terra, mas não em um ciclo porque sabe que ao fim de uma colheita a terra, assim como nós, precisa repousar. Isso é absolutamente incompatível com lógica de produtividade capitalista, que quer máximo lucro em um ciclo de produção. Por isso, a monocultura capitalista precisa dos agrotóxicos", expôs.

O professor lembrou que há três anos, o Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo, produtos que, em alguns casos, foram proibidos na Europa há mais de vinte anos por comprovadamente causarem doenças como câncer e diabetes. "Esse movimento tem um potencial enorme de unir o campo e a cidade porque envenena os camponeses e contamina suas águas, mas obviamente contamina a alimentação da cidade, e ao contaminá-la, também produz câncer, causa aos urbanos muitas enfermidades".

Para Boaventura, o grande problema político dos movimentos sociais é centrarem-se nas suas agendas. "Essas agendas são facilmente cooptáveis, como vemos hoje nos conselhos de saúde, e por outro lado não veem a floresta. A floresta é o sistema político corrupto. Nós não podemos ter políticas sustentáveis com políticos insustentáveis. Cada político corrupto é um político insustentável. E porque ele é corrupto? Será porque é má pessoa? Porque não foi à missa ontem? Não tem nada a ver com isso. A corrupção é um sistema", argumentou.

Para ele, o sistema da corrupção encontrou terreno mais fértil com a crescente indistinção entre mercado político dos valores que não se compram nem vendem com o mercado econômico dos valores que se compram e se vendem. "Hoje, o mercado político é igual ao mercado econômico. A corrupção é endêmica. Por isso que as parcerias público-privadas são efetivamente parcerias privadas-privadas. Não zelam pelo interesse público, mas pelo interesse de seus bolsos. E sendo assim, é curioso que o Brasil avance nas parcerias público-privadas sem olhar a experiência da Europa. Em Portugal e na Espanha, essas parcerias foram consideradas as maiores fontes de corrupção e estão todas em tribunal".

Para ele, não podemos vencer as nossas lutas sem alterar o sistema político. Boaventura também criticou o Código Florestal: "O código sem-vergonha seria possível se a bancada ruralista não tivesse 400 membros no Congresso Nacional? Eles servem ao sistema politico brasileiro que tem que ser reformado. Também o sistema eleitoral, o sistema da democracia participativa, o sistema dos tribunais. Vejam, há mecanismos da Constituição de 1988 que nunca foram aplicados porque não foram regulamentados, como o plebiscito e o referendo. Precisamos por em prática. Não é apenas lutar por orçamentos participativos, mas por essas outras medidas do sistema político".
http://carosamigos.terra.com.br/index/index.php/cotidiano/2195-boaventura-santos-economia-verde-e-um-cavalo-de-troia

Agroecologia: caminhos para o futuro


Em tempos de Rio+20, a humanidade vive uma encruzilhada civilizatória. A crise ambiental que vivemos não tem precedentes. 

É preciso mudar com urgência os rumos do desenvolvimento.

Muito da crise se deve ao sistema agroalimentar industrial, insustentável, que desmatou, matou ecossistemas e expulsou populações para dar lugar a monocultivos para exportação. Um sistema que usa mecanização pesada, agrotóxicos e sementes transgênicas produzidas por empresas multinacionais. As consequências são a expulsão de agricultores familiares para os centros urbanos, perda de solos e de biodiversidade, assoreamento e poluição de cursos d’água, contaminação dos alimentos. Esse modelo contribui para o aquecimento global, emite gases de efeito estufa porque desmata florestas e depende de queimar petróleo para fabricar fertilizantes e fazer a comida viajar longas distâncias.
Uma esperança
É nesse cenário que vem ganhando força no mundo um movimento contra-hegemônico: a defesa da agroecologia, uma ciência que aplica os princípios da ecologia à agricultura. Busca promover agriculturas em harmonia com a natureza, preservando florestas e águas, recuperando a fertilidade dos solos através do uso de matéria orgânica, promovendo a diversificação de cultivos e criações, com sementes crioulas produzidas pelos próprios agricultores, não usando agrotóxicos que poluem o ambiente e nem fertilizantes industriais que enfraquecem os solos. Com a agroecologia é possível produzir alimentos saudáveis, de alto valor biológico, livres de agrotóxicos e transgênicos. A ciência da agroecologia não é uma ciência autoritária e privatizada, mas democrática, pois respeita e valoriza os conhecimentos dos agricultores, e promove um diálogo destes com conhecimentos produzidos nas instituições de pesquisa.
Agroecologia é também um movimento social, pois defende propostas para a agricultura e luta por elas. O movimento agroecológico, que no Brasil tem como expressão política a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), é contra o latifúndio e defende a reforma agrária e o reconhecimento dos territórios tradicionais. Pois o desenvolvimento da agroecologia só acontece com uma agricultura familiar numerosa e forte. Também defende circuitos locais e solidários de produção e consumo de alimentos, crítico, portanto, aos impérios dos hipermercados.
Apesar das evidências dos impactos positivos da agroecologia, é necessário enfrentar mitos e construções ideológicas erguidos pelos defensores do sistema agroalimentar industrial. Este, para legitimar-se na sociedade como único caminho possível, desqualifica o enfoque agroecológico e a agricultura familiar como atrasados e incapazes de alimentar o mundo e promover desenvolvimento.
Os principais desafios da agroecologia são, portanto, de natureza política. Para enfrentá-los será necessário muita mobilização e resistência. Que sejam fortalecidas e multiplicadas experiências nos territórios, construídas redes solidárias entre o campo e cidade, e que se lute pela democratização do Estado e a construção de políticas públicas capazes de promover a agroecologia como o enfoque orientador para a agricultura e o meio rural, no Brasil e no mundo.
Denis Monteiro engenheiro agrônomo, secretário executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Rio de Janeiro, RJ.

Populações tradicionais e rurais avaliam riscos climáticos em suas comunidades

Fórum Carajás: Notícias
Foto: Fórum Carajás
Comunidade Quilombola de Barro Verrmelho 
discute riscos climáticos no seu Territórrio (Chapadinha/MA) Autor: 
Foto: Fórum Carajás
Comunidade Quilombola de Barro Verrmelho discute riscos climáticos no seu Territórrio (Chapadinha/MA)

Entre os questionamentos feitos aos resultados da Rio+ 20, um dos mais relevantes é o fato de o documento oficial – “O Futuro Que Queremos” – não levar muito em conta as contribuições dos modos de vida das comunidades e dos povos tradicionais como instrumento na luta contra as mudanças climáticas. O modo de vida dessas populações – de respeito ao meio ambiente e consumo sustentável dos recursos naturais – pouco influenciou o documento da ONU. Os líderes mundiais, principalmente das nações mais ricas, não abrem mão do crescimento contínuo.
Pequenos agricultores, pescadores e pescadoras artesanais, quilombolas e indígenas muitas vezes não participam das tomadas de decisões relativas ao meio ambiente, e no evento realizado este mês no Rio de Janeiro não foi muito diferente. Mesmo sem muito espaço para incidir no debate, são estas comunidades que sofrem diariamente as consequências das mudanças do clima.
Pensando nisso, o Programa Direito a Terra, Água e Território (DTAT) viabilizou que cinco comunidades de diversas regiões do país e localizadas em quatro biomas diferentes avaliassem os riscos climáticos que vivem e também planejassem ações de mitigação e adaptação às mudanças do clima. A avaliação foi realizada no processo de adaptação da Metodologia de Avaliação de Riscos Climáticos (CLIDES), desenvolvida pelas organizações Suíças HEKS e Pão Para Todos. “O debate sobre a crise ambiental pode colocar outras vozes na cena pública, que são ocultadas ou consideradas atrasadas”, afirmou Cristiane Faustino, do Instituto Terramar, entidade que integra o Programa DTAT no Ceará.
Foto: Terramar
Comunidade cearense na oficina sobre mudanças 
climáticas Autor: Foto: Terramar
Comunidade cearense na oficina sobre mudanças climáticas
Para ela, a chamada economia verde e o investimento tecnológico não são as únicas propostas que podem contribuir para reverter os grandes problemas ambientais enfrentados hoje. “Podemos aprender e encontrar soluções nas formas de vida destas comunidades”, lembrou. O modelo de desenvolvimento que expropria e expulsa as comunidades de seus territórios é o mesmo que compra ativos florestais, via mercado de carbono. “A contribuição das comunidades é, principalmente, na luta política por mudanças globais. O DTAT trabalha para que estas comunidades não estejam fora deste processo”, afirma Augusto Santiago, da CESE, que coordena o Programa.
Os encontros nas comunidades buscavam a adaptação da metodologia para as condições socioambientais brasileiras, levando em conta as diversidades dos biomas. “A metodologia nos ajuda a fazer uma releitura deste tema, que é amplo, relacionando-o com a vida cotidiana”, opinou a integrante do Terramar. Os encontros foram realizados com apoio da agência holandesa ICCO e da Embaixada Suíça no Brasil.
Os principais problemas percebidos pelas famílias estão relacionados à estiagem, ao aumento do calor, avanço do mar e mudanças nos ciclos de chuva. Os participantes também relataram a perda da diversidade de sementes. No semiárido, a intensificação da seca por períodos mais longos preocupa as comunidades. Já na Mata Atlântica e na Amazônia, a alternância de grandes secas com períodos de chuvas acima do normal estão entre as diferenças relatadas.
Foto: Fórum Carajás
Caminhada pelo Territórrio Quilombola de Barro
 Vermelho-Chapadinha(MA) Autor: Foto: Fórum Carajás
Caminhada pelo Territórrio Quilombola de Barro Vermelho-Chapadinha(MA)
De acordo com Sebastião Silva Pereira, da comunidade quilombola Barro Vermelho, que faz parte do Fórum em Defesa do Baixo Parnaíba, foi muito importante trabalhar o tema dentro da comunidade. “É preciso mudar a forma de lidar com a terra e com a biodiversidade da nossa região para não degradar o meio ambiente. A metodologia facilitou trabalhar com o tema dentro da nossa realidade”.
O mais importante para Nair Martins Barbosa, da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, foi perceber que a comunidade conseguiu ligar os pontos entre causas e consequências, como enchente e seca, com os problemas globais. “O mais importante foi o despertar para estes riscos que estão tão próximos e eles descobrirem que podem ser agente de mudanças no âmbito local”.
Sobre o Programa DTAT
O Programa DTAT, composto de 13 organizações brasileiras que trabalham pelo acesso de povos tradicionais aos seus territórios ancestrais, promoveu encontros sobre o tema com o objetivo de que os conhecimentos das comunidades tenham incidência nas decisões tomadas em espaços públicos. Além disso, foram realizados eventos para explicar a metodologia, cuja aplicação também foi apoiada pelo programa em todas as comunidades. Todo o processo recebe apoio da ICCO, agência Holandesa de cooperação e da Embaixada Suíça no Brasil.
Por: Bianca Pyl para o DTAT
www.forumcarajas.org.br
Enviado por Edmilson Pinheiro

“Feminicídio precisa ser visto como crime hediondo”

Em entrevista, a professora e socióloga Maria Dolores de Brito Mota explica por que mulheres continuam sendo assassinadas no Brasil
Maria Eduarda Carvalho, Revista Fórum
O feminicídio se difere do homicídio por se tratar de um crime cultural, motivado por discriminação de gênero. É o que explica, em entrevista à Fórum, Maria Dolores de Brito Mota, socióloga e professora da Universidade Federal do Cerará, UFC.
Maria Dolores, líder do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero, Idade e Família da UFC, explica os motivos que levam ao crime de gênero, que vem aumentando principalmente entre adolescentes. A socióloga também discorre sobre o papel da mídia e chama a atenção para os efeitos práticos da criação de um sistema de informação nacional sobre feminicídio no Brasil. Confira a entrevista.
Revista Fórum – O Mapa de Violência 2012 publicado pelo Instituto Sangari revela que, entre 1980 e 2010, foram assassinadas aproximadamente 91 mil mulheres no país. Mais de 90% dos crimes ocorreram por questão de gênero, os chamados feminicídios. A que se atribui o feminicídio?
Maria Dolores – A uma cultura patriarcal machista e o nosso próprio código penal reflete essa cultura. Até pouco tempo era bastante aceitável, digamos assim, no âmbito do judiciário, as mortes por defesa da honra. Era um atributo que a sociedade patriarcal brasileira permitia. A própria novela Gabriela [atualmente exibida na rede Globo] retrata um caso desses. Era muito comum os homens se sentirem ofendidos quando as mulheres se envolviam em outras relações, bastava o simples ciúmes ou a recusa do fim do relacionamento, quando esse fim era colocado pela mulher. Na nossa cultura o homem define a relação, é o querer dele, o desejo dele que determina se uma relação continua ou não. E quando havia a recusa, quando o desejo da mulher se manifestava e ela não queria mais manter a relação naquele nível, o homem se dava ao direito de não aceitar e isso era levado até as últimas consequências. A cultura patriarcal é o que leva a um índice tão alto de feminicídio no Brasil.
Fórum – Muitas mulheres são, na verdade, meninas ainda, em grande parte adolescentes. O que esses feminicídios juvenis indicam?
MD – Essa é uma questão importante. As garotas cada vez mais jovens são alvo dessa violência de gênero, e não é só porque a gente vive uma cultura de violência generalizada. É que [a violência] sempre vai se voltar de forma mais forte para o sujeito colocado numa posição de vulnerabilidade e discriminação, como é o caso da mulher e da própria figura da menina, que é extremamente sexualizada. Estamos passando por um processo de sexualização da adolescência que estimula que as meninas sejam vistas e colocadas como objeto sexual. Isso é uma questão que o próprio movimento de defesa da criança e do adolescente vem se deparando. Há uma polêmica enorme, por exemplo, entre a secretaria de Direitos Humanos da presidência e a secretaria de Políticas para as Mulheres. Quando o movimento feminista trabalha com mulheres acima de 18 anos e encontram crianças de 11 ou 12 anos, que estão em situação de exploração sexual, eles encaminham para a secretaria de Direitos Humanos e para os movimentos em defesa da criança. Percebe-se que há uma ambiguidade, quem cuida dessas meninas? Isso é complicado, mas vejo esse fenômeno como um sinal de que há uma mudança na questão da adolescência. A infância está se encurtando muito. Isso ocorre por um processo cultural e, por outro lado, por conta da questão da sexualização muito forte na nossa cultura. Isto é uma outra discussão que precisamos fazer no Brasil: entender qual é o significado hoje da sexualidade, do corpo sem entrar em questões de moralidade.”
Fórum – Qual a responsabilidade da mídia no feminicídio a partir do momento em que os meios de comunicação colocam em destaque a figura do agressor?
MD – É preciso falar da forma como a imprensa aborda a questão do feminicídio, porque ela não aborda como crime de gênero. Hoje, a gente passa por um processo de democracia que abrange todos os níveis da sociedade, por que a imprensa também não se compromete com isso? Ela se compromete até certo ponto, mas é preciso muito mais. É preciso assumir alguns compromissos com a construção de uma cultura mais cívica, mais cidadã e abordar de uma maneira diferenciada a questão da criança e do adolescente no sentido de não colocar a criança como culpada, quando ela é, na verdade, vítima do abuso sexual. Há uma forma de abordar que acaba por culpabilizar a criança e desloca a questão central, que é onde a sociedade brasileira hoje coloca a criança e o adolescente.
A imprensa precisa fazer uma abordagem diferenciada, não sensacionalista, dos crimes de gênero. Quando a gente trabalha com dados de imprensa – como eu tenho trabalhado desde 2006 – a gente percebe que ela subnotifica. Por exemplo, no Ceará temos um índice de 153 mortes por crimes de gênero, mas só 60 são noticiados, tudo bem que não é a função da imprensa noticiar tudo, mas que noticie bem, procure fazer um jornalismo mais investigativo, mais descritivo, coloque as circunstâncias, busque identificar os autores, ouvir a família e pessoas envolvidas. Precisamos trabalhar essa questão da mídia, na perspectiva de construir valores para as pessoas não aceitarem mais esse tipo de violência contra mulher, porque quem lê a notícia é influenciado pelo que está escrito.
Fórum – No ano seguinte à criação da Lei Maria da Penha, em 2007, houve uma pequena redução na taxa de violência contra a mulher, mas logo as estatísticas alcançaram altos índices novamente. Em sua opinião por que esses números continuaram numa crescente? Quais as medidas para conter esses índices além de prender o acusado?
MD – Esse volume intenso é, de fato, a incapacidade de uma cultura machista, patriarcal de aceitar que as mulheres tenham autonomia e possam decidir as suas vidas. As mulheres avançaram muito, se empoderaram, se fortaleceram. Temos um marco regulatório que envolve um conjunto de informações: a Lei Maria da Penha, casas de referência, tudo isso para fazer com que a mulher se sinta forte para dizer não, eu não quero mais esse tipo de vida. Só que os homens não passaram por um processo de mudança de pensamento sobre a condição deles. Há uma incapacidade dos homens em lidar com essa nova mulher, e o Estado tem que criar leis no sentido de construir políticas que possam impactar toda a sociedade, mudando valores. No caso do feminicídio, defendo que ele seja incluído na Lei Maria da Penha e que se diferencie do homicídio. É um desafio fazer isso, mas esse é um crime diferente por ser um crime construído pela cultura. É preciso atribuir a ele uma penalidade de crime hediondo bastante severa. O problema também é a impunidade.
Fórum – A residência foi apontada em 40% das ocorrências como o local em que as mulheres foram assassinadas. Quais os danos que esses dados apontam na formação dos filhos e crianças que convivem com essas mulheres?
MD – No Brasil, isso ainda não está sendo trabalhado, mas as organizações feministas da América Latina de diferentes países estão bem avançadas nessa questão do enfrentamento do feminicídio e na questão dos filhos do feminicídio. E não é só filho, é toda uma marca que fica na família, quem vai cuidar dessa criança? É fundamental discutir isso no Brasil porque são muitas as crianças que presenciam o assassinato ou que encontram a mãe morta e sabem que foi o pai quem matou. É um desafio.
Fórum – Quais os efeitos práticos da criação de um sistema de informação nacional sobre feminicídio no Brasil?
MD – É difícil construir critérios unificados e distribuir por vários grupos em diferentes estados, mas a secretaria de Políticas para Mulheres tem condições de criar esse sistema de informação. Assim poderíamos sistematizar todos os dados sobre assassinato de mulheres, da imprensa ou da secretaria de segurança pública. Para ter acesso ao sistema judiciário, o juiz tem que autorizar, isso é uma limitação. Os dados que temos acesso são do laudo cadavérico, que não tem informações que digam quem matou aquela mulher, qual era a relação do assassino com a vítima, isso não aparece. A secretaria de Políticas para Mulheres pode estabelecer que as secretarias de Segurança de cada estado disponibilizem esses dados para construir um sistema de informação e que isso possa ficar disponível, porque a informação tem que ser pública. A transparência é fundamental, a secretaria tem muita coisa para fazer, mas isso é urgente.
Enviada por José Carlos.
http://revistaforum.com.br/blog/2012/07/feminicidio-precisa-ser-visto-como-crime-hediondo/
Enviada por Tania Pacheco  Por

Munduruku em Jacareacanga, no Pará, pedem presença do governador

Em reunião com policiais e representantes da Funai não houve acordo.
Governo enviou tropas de segurança para o município.

 

Não houve acordo durante a reunião realizada na noite desta quarta-feira (04) entre representantes da Superintendência Regional da Polícia Civil no Tapajós e da Fundação Nacional dos Índios (Funai) com os índios Munduruku que atacaram uma unidade da polícia militar no município de Jacareacanga, sudoeste do Pará. As negociações, porém, devem ser retomadas nesta quinta-feira (05).
Segundo o superintendente, ele e os dois representantes da Funai estão impedidos pelos indígenas de sair do município, porém os índios não teriam usado violência. Os Munduruku exigem a presença do governador, Simão Jatene, ou do Secretário de Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup), no local.
A Segup enviou ao município de Jacareacanga um efetivo do Comando de Missões Especiais (CME), da Polícia Militar. A tropa é especializada em gerenciamento de crises e situações de alta complexidade. Uma equipe da Polícia Civil também seguiu para o município, para reforçar o trabalho dos órgãos de segurança. Porém os agentes aguardam o término das negociações para entrar no município.
Segundo o delegado geral da Polícia Civil no Pará, Nílton Athaide, não há insegurança em Jacareacanga, já que os indíos não praticaram nenhum outro ato deste o ataque a unidade da PM, porém o clima seria de tensão.
O protesto dos índios foi contra a liberação de dois dos quatro suspeitos de assassinar um Munduruku na semana passada no município. "Apenas dois participaram efetivamente do fato e, em relação aos outros dois, não tínhamos evidências e eles foram, nesse primeiro momento, liberados. Isso causou a indignação dos indígenas", explica Nílton Athaíde.
Uma das lideranças indígenas, por telefone, conversou com a reportagem da TV Liberal, em Belém, e disse que os índios perderam o controle durante o ato e que eles não planejavam destruir a unidade da PM. "A nossa proposta não era para quebrar a delegacia. Queríamos que os criminossos, que fizeram isso com nosso irmão fossem punidos. Ele não deveria ter morrido do jeito que morreu", explicou Waldemiro Manhauary, líder indígena.
Entenda o caso
Na madrugada da última terça-feira (03), além de incendiar a unidade da PM em Jacareacanga, cerca de 50 índios Munduruku teriam perseguido e atirado flechas contra os quatro políciais militares que trabalhavam no município.
"Eles nos seguiram em uma caçamba e em duas motos, mas nosso carro era mais rápido e eles não nos alcançaram. Eles atacaram a viatura com porretadas e flechas, mas não atropelamos nem atiramos em ninguém. Também tinham duas barricadas na estrada, mas conseguimos passar por elas e nos escondemos no mato. Então passamos a monitorar a situação por telefone com a ajuda de amigos que estavam na cidade", conta Antônio Cajado, Comandante da PM de Jacareacanga. Um dos policiais ficou ferido.
"Eles não chegaram para conversar com a gente. Chegaram já atirando flechas. Eu acho que eles foram lá para nos matar", considera o cabo Raimundo Nonato Rodrigues.
Segundo a polícia, na confusão, os índios retiraram do prédio duas armas tipo carabina e um revólver calibre 38.
Fonte:http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2012/07/munduruku-em-jacareacanga-no-para-pedem-presenca-do-governador.html

Extração de buriti concilia geração de renda e conservação de espécie

Uma pesquisa de doutorado do Instituto de Biologia, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), demonstra que comunidades rurais que fazem o extrativismo do buriti conquistam renda e colaboram com a conservação da espécie.

  www.brasil.agenciapulsar.org  
Buriti é a “árvore da vida”. (j. da unicamp)

A planta da qual se aproveita tudo, da folha ao óleo, é tratada como “árvore da vida”, sobretudo pelos trabalhadores. O engenheiro florestal Maurício Bonesso Sampaio demonstrou por meio de seu estudo que, mesmo que sejam removidos até 70% dos frutos pelas populações, a extração do buriti ainda não será de demasiado impacto.
Sampaio declarou ao Jornal da Unicamp que o extrativista não prejudica a semente pois, em sua atividade, apenas retira a polpa dos frutos. Como as sementes ficam intactas, se forem retornadas ao brejo, a reprodução do buriti seguirá o seu curso normal.
Os doces caseiros de buriti são os que mais agradam, sendo produzidos e comercializados no Brasil pelos próprios extrativistas, moradores das zonas rurais. Entretanto, outras indústrias também estão interessadas no seu óleo, em geral do ramo cosmético.
O buriti, o estudioso conta, é mais encontrado na Amazônia, no Cerrado, no Pantanal e em uma pequena área da Caatinga. Em São Paulo, onde existe uma menor faixa do norte do estado, está classificado como “em perigo” na lista oficial das espécies da flora com risco de extinção.
Em sua tese, Sampaio ressaltou que a planta é ameaçada principalmente pelas queimadas e pelo desmatamento. A pesquisa também apresenta populações que estão reagindo a esse tipo de exploração. Para realizar o doutorado sobre o extrativismo familiar de buriti, o pesquisador focou sua investigação nos estados do Piauí e de Tocantins. (pulsar)
Fonte: http://www.brasil.agenciapulsar.org/nota.php?id=8943
Enviado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) agroecologia.org.br 

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Estradas assassinas de um progresso vampiro

O sangue Kaiowá Guarani continua manchando o chão e o asfalto no Mato Grosso do Sul. Na Semana que termina foram três atropelamentos, com a morte de Aguinaldo e Wagner, estando Zezinho, liderança do acampamento Laranjeira Nhanderu, município de Rio Brilhante, na UTI em Dourados, em estado gravíssimo.

Tudo isso em conseqüência do atropelamento dos direitos desses povos, que por não terem sua terras demarcadas são jogados para a beira das estradas, onde sobrevivem em situações desumanas, submetidos aos constantes riscos de atropelamentos.

Damiana do Apyka'i - Plantando cruzes

Damiana, guerreira Kaiowa Guarani do tekohá Apyka'i, município de Dourados-MS é o símbolo desse sofrimento e resistência. Teve seu marido Hilário morto por atropelamento e neste último ano três filhos tiveram a mesma sina, morte por atropelamento.

Ir. Elisa, que trabalha com os Kaiowá Guarani, na equipe do Cimi Dourados, relatou a tragédia.

"Agnaldo Cari de Souza, filho de Damiana foi atropelado por  funcionário da usina que estava de moto (segundo Damiana) e morreu, na estrada a 100 metros do acampamento. Enterrado ao lado de seu irmão Sidnei que morreu atropelado no ano passado na mesma rodovia. Segundo Damiana este funcionário teria jogado diesel no barraco de Agnaldo dias antes do atropelamento.

Uma semana depois, seu outro filho, Wagner Freitas, é também atropelado e morre na hora. Foi enterrado ontem, 25 de junho, junto ao corpo de Sidnei e Agnaldo.

Veias abertas no Mato Grosso do Sul

Historicamente as estradas foram os caminhos das invasões dos territórios indígenas, os caminhos da morte e escravidão. Foram picadas, por entre a mata, que se transformaram em precários caminhos de caminhões que saquearam a madeira, depois se transformaram em estradas asfaltadas e se consolidaram como rodovia que cortam esse país em todas as direções como veias abertas de vidas sacrificadas por um desenvolvimento que se alimenta de sangue de tantas vidas, num processo de progresso vampiro. No Mato Grosso do Sul essa situação vem se agravando com o avanço célere do grande capital, na plantação de imensos canaviais para a produção de etanol e açúcar.

Guerreiro Zezinho, incansável lutador pelos direitos do Povo Kaiowá Guarani, representante dos acampamentos indígenas no Conselho de Aty Guasu, teu povo, tua comunidade de Laranjeira Nhanderu e seus amigos no país e no mundo estão contigo neste momento difícil, de dor e sofrimento. Que Nhandejara, te conserve a vida.

Zezinho acabara de voltar do Rio de Janeiro onde, juntamente com mais de uma centena de representantes indígenas do Mato Grosso do Sul, participou do Acampamento Terra Livre, na Cúpula dos Povos. Denunciaram em vários espaços a dramática situação dos povos indígenas, especialmente os acampados à beira da estrada. Ele acaba sendo mais uma das vítimas das dezenas de mortes por atropelamento que acontecem todo ano no Mato Grosso do Sul. Conforme o Relatório de Violência Contra dos Povos Indígenas – Dados de 2011, organizado pelo Cimi, das 12 mortes por atropelamento registradas, 8 ocorreram naquele Estado. Só da comunidade de Laranjeira Nhanderu, nesses anos em que estão acampadas, três pessoas mortas por atropelamento.

Conforme denúncias dos Kaiowá Guarani, nas Aty Guasu, "os indígenas são mortos nas estradas que nem cachorro, que se mata e fica aí jogado". Isso em função da impunidade total em que ficam os responsáveis por essas mortes. Em geral, os causadores fogem sem prestar socorro e sequer são identificados.

Zezinho tem acompanhado com muita garra e indignação as lutas de retomada de várias comunidades, como Kurussu Ambá, Ypo'í e Guaiviry, dentre outras. Essas comunidades continuam lutando por suas terras. Elas esperam, como o povo Kaiowá, continuar contando com a presença e apoio do grande líder José de Almeida Barbosa, carinhosamente conhecido como Zezinho.

Egon Heck
Povo Guarani Grande Povo
Cimi 40 anos – 1º de julho de 2012.
http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=6360&action=read

Insuficiências conceptuais da Rio+20


 Leonardo Boff
Não corresponde à realidade dizer que a Rio+20 foi um sucesso. Pois não se chegou a nenhuma medida vinculante nem se criaram fundos para a erradicação da pobreza nem mecanismos para o controle do aquecimento global. Não se tomaram decisões para a efetivação do propósito da Conferência que era criar as condições para o “futuro que queremos”. É da lógica dos governos não admitirem fracassos. Mas nem por isso deixam de sê-lo. Dada a degradação geral de todos os serviços ecossistêmicos, não progredir significa regredir.
No fundo, afirma-se: se a crise se encontra no crescimento, então a solução se dá com mais crescimento ainda. Isso concretamente significa: mais uso dos bens e serviços da natureza o que acelera sua exaustão e mais pressão sobre os ecossistemas, já nos seus limites. Dados dos próprios organismos da ONU dão conta que de desde a Rio 92 houve uma perda de 12% da biodiversidade, 3 milhões de metros quadrados de florestas foram desmatados, 40% mais gases de efeito estufa foram emitidos e cerca da metade das reservas de pesca mundiais foram exauridas.
O que espanta é que o documento final e o borrador não mostram nenhum sentido de autocrítica. Não se perguntam por quê chegamos à atual situação, nem percebem, claramente, o caráter sistêmico da crise. Aqui reside a fraqueza teórica e a insuficiência conceptual deste e, em geral, de outros documentos oficiais da ONU. Elenquemos alguns pontos críticos.
Os que decidem continuam dentro do velho software cultural e social que coloca o ser humano numa posição adâmica: sobre a natureza como o seu dominador e explorador, razão fundamental da atual crise ecológica. Não entendem o ser humano como parte da natureza e responsável pelo destino comum. Não incorporaram a visão da nova cosmologia que vê a Terra como viva e o ser humano como a porção consciente e inteligente da própria Terra com a missão de cuidar dela e garantir-lhe sustentabilidade. Ela é vista tamsomente como um reservatório de recursos, sem inteligência e propósito.
Acolheram a “grande transformação”(Polanyi) ao anular a ética, marginalizar a política e instaurar como único eixo estruturador de toda a sociedade a economia; de uma economia de mercado passou-se a uma sociedade de mercado, descolando a economia real da economia financeira especulativa, esta comandando aquela.           Confundiram desenvolvimento com crescimento, aquele como o conjunto de valores e condições que permitem o desabrochar da existência humana e este como mera produção de bens a serem comercializados no mercado e consumidos. Entendem a sustentabilidade como a maneira de garantir a continuidade e a reprodução do mesmo,  das instituições, das empresas e de outras instâncias, sem mudar sua lógica interna e sem questionar os impactos que causam sobre todos os serviços ecossistêmicos. São reféns de uma concepção antropocêntrica, quer dizer: todos os demais seres somente ganham sentido na medida em que se ordenam ao ser humano, desconhecendo a comunidade de vida, também gerada, como nós, pela Mãe Terra. Entretém uma relação utilitarista com todos os seres, negando-lhes valor intrínseco e por isso como sujeitos de respeito e de direitos, especialmente o planeta Terra.
Por considerar tudo pela ótica do econômico que se rege pela competição e não pela cooperação, aboliram a ética e a dimensão espiritual na reflexão sobre o estilo de vida, de produção e de consumo das sociedades. Sem ética e espiritualidade, nos fizemos bárbaros, insensíveis à paixão de milhões de milhões de famintos e miseráveis. Por isso impera radical individualismo, cada país buscando o seu bem particular por em cima do bem comum global, o  que impede, nas Conferências da ONU, consensos e convergências na diversidade. E asssim, hilariantes e alienados, rumamos ao encontro de um abismo, cavado por nossa falta de razão sensível, de sabedoria e de sentido transcendente da existência.
Com estas insuficiências conceptuais, jamais sairemos bem das crises que nos assolam. Este era o clamor da Cúpula dos Povos que apresentava alternativas de esperança. Na pior das hipóteses, a Terra poderá continuar mas sem nós. Que Deus não o permita, porque é “o soberano amante da vida” como atestam as Escrituras judaico-cristãs.
Leonardo Boff é autor de O cuidado necessário, Vozes, Petrópolis 2012.
http://leonardoboff.wordpress.com/2012/07/01/insuficiencias-conceptuais-da-rio20/

Economia verde em xeque


Por Washington Castilhos, do Rio de Janeiro
Agência FAPESP – “Economia verde” costuma ser usada para descrever a compatibilização do crescimento econômico com o meio ambiente, um dos blocos do crescimento sustentável. Segundo a Green Economy Initiative, iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) lançada em 2008, a economia verde resulta em melhoria do bem-estar humano e da igualdade social, enquanto reduz os riscos ambientais e a escassez ecológica.
Apesar de ser usada há mais de 20 anos, a expressão “economia verde” ainda é controversa, assim como seu próprio conceito. Enquanto para alguns é perfeitamente possível, para os mais críticos ela seria uma tentativa de viabilizar a sociedade de consumo e adiar mudanças estruturais.
Essa foi a tônica de um painel que reuniu cientistas de diversos países no Rio de Janeiro durante as discussões para a RIO+20. No encontro, os pesquisadores debateram as possibilidades de uma economia verde, se esse modelo requer uma mudança de paradigma nos padrões econômicos ou se é compatível com os mercados competitivos, com a mercantilização de recursos e com a expansão do consumo.
A economista Elizabeth Stanton, do Instituto do Meio Ambiente de Estocolmo, Suécia, pontuou que é preciso analisar para quem os benefícios desse novo paradigma econômico seriam distribuídos. “A tendência é fazer os pobres ficarem mais ricos ou os ricos ainda mais ricos?”, questionou.
Tim Jackson, professor de desenvolvimento sustentável da Universidade de Surrey, na Inglaterra, e autor do livro Prosperity without growth (“Prosperidade sem crescimento”), defendeu uma mudança de valores, com menos consumismo e individualismos.
“O crescimento econômico tem distribuído seus benefícios de maneira desigual. Longe de elevar o padrão de vida dos pobres, o crescimento piorou a situação de boa parte da população mundial. A riqueza favoreceu uma minoria”, disse.
“À medida que a economia se expande, crescem as implicações nos recursos naturais envolvidos, com impactos globais que já são insustentáveis. No último meio século, enquanto a economia global crescia, 60% dos ecossistemas mundiais foram degradados. Uma escassez de recursos naturais básicos – como o petróleo – pode estar a menos de uma década de nós”, afirmou Jackson.
“A economia verde é uma forma de negar evidências como a de que a concentração de dióxido de carbono está crescendo a 2 partes por milhão (ppm) ao ano”, disse o espanhol Joan Martinez Alier, da Universidade de Barcelona, à Agência FAPESP.
Segundo o economista catalão, a base do acordo deveria ser o hemisfério Norte global renunciar ao crescimento econômico em favor do crescimento do Sul.
“Creio que o Norte deveria ter economias sem crescimento e o Sul deveria reduzir suas extrações naturais para a metade e passar a exportar menos seus produtos. O que o Sul também poderia fazer era aumentar os impostos sobre a exportação. No caso brasileiro, por exemplo, quem pagaria por um possível acidente ecológico na extração do petróleo do fundo do mar, com o pré-sal?”, disse.
Para Alier, a proposta de sustentabilidade mundial baseada em ajudas financeiras multilaterais não é o caminho. “Emprestar dinheiro, como historicamente se tem feito, não é a saída, pois preservar o meio ambiente não é uma questão de milhões, mas sim de controlar a mudança climática e manter a biodiversidade”, disse.
“Em relação aos países do hemisfério Sul, há um pensamento de que eles são demasiados pobres para serem ecológicos. Mas do que morreram pessoas como Chico Mendes se não para defender a ecologia? Ecologia não é um luxo, é uma necessidade para todos”, afirmou Alier.
Recursos naturais
Lidia Brito, diretora da divisão de Políticas Científicas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), rejeita a expressão “economia verde”.
“Para ser honesta, na Unesco não falamos em economia verde. Falamos de sociedade verde. Penso que o ceticismo dos investigadores vem daí: a discussão não é sobre economia. O que temos certeza é que não é possível falar apenas de um dos blocos do desenvolvimento sustentável”, disse.
“A economia não pode ser discutida sem as questões sociais, culturais e ambientais. Elas estão interligadas e não podem ser tratadas de forma independente. Fico satisfeita com os cientistas brasileiros, que não querem falar apenas em economia. Temos que falar em sociedade verde, para destacar essa força de mudança”, disse Brito.
Na opinião de Ronaldo Seroa da Motta, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e professor de Economia Ambiental do Ibmec no Rio de Janeiro, não há outra saída a não ser tentar uma economia que seja restritiva no uso de recursos naturais.
“Sou a favor da precificação dos recursos naturais. Enquanto tivermos água barata, por exemplo, vamos consumir mais. Devemos nos preocupar com o produto líquido, quer dizer, o quanto que de capital natural perdemos para gerar uma determinada produção. Era isso que deveríamos estar medindo”, disse.
“Se aumentarmos o preço dos serviços ambientais, teremos uma perda de crescimento econômico em curto prazo, mas depois isso será revertido. Um exemplo: devido ao alto índice de desmatamento das florestas, o cerceamento à extração de madeiras fez com que passássemos a usar derivados de petróleo, e hoje vemos muitos produtos de plástico e quase nada de madeira. Mas se tivermos uma política agressiva na área ambiental, a primeira coisa a ser feita é reflorestar, opção mais barata e urgente”, afirmou.
Segundo Motta, ex-diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), é preciso reflorestar 10% da superfície do planeta para capturar carbono. “Isso impulsionaria enormemente o setor produtivo da madeira, uma vez que vamos extrair madeira e mobilizá-la em artigos como móveis, para poder fazer a madeira crescer novamente e continuar capturando carbono”, disse.
“Então, daqui a 30 anos, por exemplo, o fato de colocarmos o preço do carbono alto e todo mundo ter que plantar para poder continuar a produzi-lo, implicará em crescimento econômico impulsionado pelo setor produtivo da madeira, mais competitivo, sem degradação do meio ambiente”, disse.
De acordo com Motta, a saída não é aumentar o preço do que não é sustentável por meio de impostos, mas sim incentivar iniciativas sustentáveis cujos produtos sejam mais baratos. 
http://agencia.fapesp.br/15766