Em tempos de Rio+20, a humanidade vive uma encruzilhada civilizatória. A crise ambiental que vivemos não tem precedentes.
É preciso mudar com urgência os rumos do desenvolvimento.
Muito da crise se deve ao sistema agroalimentar industrial,
insustentável, que desmatou, matou ecossistemas e expulsou populações
para dar lugar a monocultivos para exportação. Um sistema que usa
mecanização pesada, agrotóxicos e sementes transgênicas produzidas por
empresas multinacionais. As consequências são a expulsão de agricultores
familiares para os centros urbanos, perda de solos e de biodiversidade,
assoreamento e poluição de cursos d’água, contaminação dos alimentos.
Esse modelo contribui para o aquecimento global, emite gases de efeito
estufa porque desmata florestas e depende de queimar petróleo para
fabricar fertilizantes e fazer a comida viajar longas distâncias.
Uma esperança
É nesse cenário que vem ganhando força no mundo um movimento
contra-hegemônico: a defesa da agroecologia, uma ciência que aplica os
princípios da ecologia à agricultura. Busca promover agriculturas em
harmonia com a natureza, preservando florestas e águas, recuperando a
fertilidade dos solos através do uso de matéria orgânica, promovendo a
diversificação de cultivos e criações, com sementes crioulas produzidas
pelos próprios agricultores, não usando agrotóxicos que poluem o
ambiente e nem fertilizantes industriais que enfraquecem os solos. Com a
agroecologia é possível produzir alimentos saudáveis, de alto valor
biológico, livres de agrotóxicos e transgênicos. A ciência da
agroecologia não é uma ciência autoritária e privatizada, mas
democrática, pois respeita e valoriza os conhecimentos dos agricultores,
e promove um diálogo destes com conhecimentos produzidos nas
instituições de pesquisa.
Agroecologia é também um movimento social, pois defende propostas para a
agricultura e luta por elas. O movimento agroecológico, que no Brasil
tem como expressão política a Articulação Nacional de Agroecologia
(ANA), é contra o latifúndio e defende a reforma agrária e o
reconhecimento dos territórios tradicionais. Pois o desenvolvimento da
agroecologia só acontece com uma agricultura familiar numerosa e forte.
Também defende circuitos locais e solidários de produção e consumo de
alimentos, crítico, portanto, aos impérios dos hipermercados.
Apesar das evidências dos impactos positivos da agroecologia, é
necessário enfrentar mitos e construções ideológicas erguidos pelos
defensores do sistema agroalimentar industrial. Este, para legitimar-se
na sociedade como único caminho possível, desqualifica o enfoque
agroecológico e a agricultura familiar como atrasados e incapazes de
alimentar o mundo e promover desenvolvimento.
Os principais desafios da agroecologia são, portanto, de natureza
política. Para enfrentá-los será necessário muita mobilização e
resistência. Que sejam fortalecidas e multiplicadas experiências nos
territórios, construídas redes solidárias entre o campo e cidade, e que
se lute pela democratização do Estado e a construção de políticas
públicas capazes de promover a agroecologia como o enfoque orientador
para a agricultura e o meio rural, no Brasil e no mundo.
Denis Monteiro
engenheiro agrônomo, secretário executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Rio de Janeiro, RJ.
secretaria.ana@agroecologia.org.br
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