O
sangue Kaiowá Guarani continua manchando o chão e o asfalto no Mato
Grosso do Sul. Na Semana que termina foram três atropelamentos, com a
morte de Aguinaldo e Wagner, estando Zezinho, liderança do acampamento
Laranjeira Nhanderu, município de Rio Brilhante, na UTI em Dourados, em
estado gravíssimo.
Tudo
isso em conseqüência do atropelamento dos direitos desses povos, que
por não terem sua terras demarcadas são jogados para a beira das
estradas, onde sobrevivem em situações desumanas, submetidos aos
constantes riscos de atropelamentos.
Damiana do Apyka'i - Plantando cruzes
Damiana,
guerreira Kaiowa Guarani do tekohá Apyka'i, município de Dourados-MS é o
símbolo desse sofrimento e resistência. Teve seu marido Hilário morto
por atropelamento e neste último ano três filhos tiveram a mesma sina,
morte por atropelamento.
Ir. Elisa, que trabalha com os Kaiowá Guarani, na equipe do Cimi Dourados, relatou a tragédia.
"Agnaldo
Cari de Souza, filho de Damiana foi atropelado por funcionário da
usina que estava de moto (segundo Damiana) e morreu, na estrada a 100
metros do acampamento. Enterrado ao lado de seu irmão Sidnei que morreu
atropelado no ano passado na mesma rodovia. Segundo Damiana este
funcionário teria jogado diesel no barraco de Agnaldo dias antes do
atropelamento.
Uma
semana depois, seu outro filho, Wagner Freitas, é também atropelado e
morre na hora. Foi enterrado ontem, 25 de junho, junto ao corpo de
Sidnei e Agnaldo.
Veias abertas no Mato Grosso do Sul
Historicamente
as estradas foram os caminhos das invasões dos territórios indígenas,
os caminhos da morte e escravidão. Foram picadas, por entre a mata, que
se transformaram em precários caminhos de caminhões que saquearam a
madeira, depois se transformaram em estradas asfaltadas e se
consolidaram como rodovia que cortam esse país em todas as direções como
veias abertas de vidas sacrificadas por um desenvolvimento que se
alimenta de sangue de tantas vidas, num processo de progresso vampiro.
No Mato Grosso do Sul essa situação vem se agravando com o avanço célere
do grande capital, na plantação de imensos canaviais para a produção de
etanol e açúcar.
Guerreiro
Zezinho, incansável lutador pelos direitos do Povo Kaiowá Guarani,
representante dos acampamentos indígenas no Conselho de Aty Guasu, teu
povo, tua comunidade de Laranjeira Nhanderu e seus amigos no país e no
mundo estão contigo neste momento difícil, de dor e sofrimento. Que
Nhandejara, te conserve a vida.
Zezinho
acabara de voltar do Rio de Janeiro onde, juntamente com mais de uma
centena de representantes indígenas do Mato Grosso do Sul, participou do
Acampamento Terra Livre, na Cúpula dos Povos. Denunciaram em vários
espaços a dramática situação dos povos indígenas, especialmente os
acampados à beira da estrada. Ele acaba sendo mais uma das vítimas das
dezenas de mortes por atropelamento que acontecem todo ano no Mato
Grosso do Sul. Conforme o Relatório de Violência Contra dos Povos
Indígenas – Dados de 2011, organizado pelo Cimi, das 12 mortes por
atropelamento registradas, 8 ocorreram naquele Estado. Só da comunidade
de Laranjeira Nhanderu, nesses anos em que estão acampadas, três pessoas
mortas por atropelamento.
Conforme
denúncias dos Kaiowá Guarani, nas Aty Guasu, "os indígenas são mortos
nas estradas que nem cachorro, que se mata e fica aí jogado". Isso em
função da impunidade total em que ficam os responsáveis por essas
mortes. Em geral, os causadores fogem sem prestar socorro e sequer são
identificados.
Zezinho
tem acompanhado com muita garra e indignação as lutas de retomada de
várias comunidades, como Kurussu Ambá, Ypo'í e Guaiviry, dentre outras.
Essas comunidades continuam lutando por suas terras. Elas esperam, como o
povo Kaiowá, continuar contando com a presença e apoio do grande líder
José de Almeida Barbosa, carinhosamente conhecido como Zezinho.
Egon Heck
Povo Guarani Grande Povo
Cimi 40 anos – 1º de julho de 2012.
http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=6360&action=read
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