Natasha Pitts, jornalista da Adital
Começou oficialmente nesta sexta-feira (15), no Rio de Janeiro (Brasil), a ‘Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental'. Centenas de pessoas continuam chegando ao Aterro do Flamengo, local do evento, e modificando a paisagem carioca. As tendas e auditórios ainda estão sendo montadas e aos poucos ativistas, jovens, pesquisadores de universidades e sociedade em geral começam a se reunir para debater temas como desenvolvimento sustentável, nanotecnologia, reciclagem, diálogo interreligioso, entre outros.
Uma das atividades da manhã deste primeiro dia foi o debate
Agricultura e Crises Ambientais, com a participação de Paulo Petersen,
da Associação Brasileira de Agroecologia. Paulo conversou com os
participantes sobre assuntos como a crise ecológica profunda e a
segurança alimentar que afetam cada dia mais a população.
"Não basta falar de segurança alimentar, a Monsanto, uma das maiores
produtoras de agroquímicos, também fala nesse tema. Nós precisamos falar
de soberania alimentar. E Cuba dá um exemplo disso, pois o país tem
condições políticas”, disse.
O palestrante também tocou em um ponto que deverá ser amplamente
debatido na Cúpula: a capacidade da sociedade civil de influenciar o que
está sendo debatido no Riocentro, onde acontece a Conferência das
Nações Unidades sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.
"Nós sofremos de invisibilidade, por isso temos que reaprender a
fazer política, precisamos também renovar os movimentos sociais e
estimular a capacidade de reação. O movimento agroecológico é pouco
visto, mas quando produtores rurais decidem usar semente crioula e não
usar agrotóxicos eles incomodam, são vistos”, instiga.
Paralelamente, em outra tenda, foi lançado o Corredor Etnoambiental
Tupí Mondé, iniciativa constituída por povos indígenas do tronco tupi
guarani e da família Mondé, que são os Paiter (Suruí), Paderej (Cinta
Larga), Ikolen (Gavião), Pangyjej (Zoró) e Karo (Arara), falantes do
Rama Rama. Estes cinco povos indígenas somam cerca de quatro mil pessoas
espalhadas por territórios em Rondônia e Mato Grosso do Sul.
A criação deste Corredor Etnoambiental quer, entre outras coisas,
evitar que se repitam episódios violentos como o Massacre do Paralelo
11, quando 3.500 Cinta Larga morreram envenenados por arsênico.
Acredita-se que empresários tenham encomendado as mortes a pistoleiros. O
crime aconteceu em 1960, mas até hoje está vivo na memória dos povos
indígenas.
Nas palavras do cacique Josias, a necessidade de organização entre
estes cinco povos, com laços culturais tão fortes e próximos, era óbvia.
"Temos semelhanças na cultura, na língua, nas tradições, então
decidimos nos unir e nos fortalecer por meio de uma organização. Dessa
forma, vamos poder juntos buscar nossa sustentabilidade econômica, gerir
melhor nossos territórios e fortalecer a cultura indígena”, explicou
Josias, assegurando a união entre os conhecimentos dos indígenas mais
velhos e dos mais novos foi fundamental.
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