11 de janeiro de 2013
Por José Coutinho Júnior
Da Página do MST
Da Página do MST
A segunda fase do vestibular da Fundação
Universitária para o Vestibular (Fuvest), ocorrida do dia 6 a 8 de janeiro,
teve em sua prova de História e Geografia uma questão pautando o tema dos
agrotóxicos.
A questão (veja aqui),
que foi baseada em um artigo da professora Larissa Bombardi sobre o tema,
exigiu dos candidatos uma reflexão sobre como os agrotóxicos afetam a produção
agrícola brasileira, o papel das empresas transnacionais na agricultura e seus
impactos na natureza e na saúde humana.
A reportagem procurou dois especialistas no
assunto, que pudessem não só responder a questão pela ótica dos movimentos sociais,
mas aprofundar o debate sobre o uso dos agrotóxicos no país.
Leia
abaixo a pergunta, as respostas e comentários:
Considere as afirmações I, II e III.
I: Há dois elementos fundamentais na agricultura
que a diferem da indústria: o primeiro deles é o tempo da natureza.
II: Em 2009, o Brasil alcançou o primeiro lugar no
ranking mundial de consumo de agrotóxicos.
III: Ressalte-se que 92% da receita líquida gerada
pelas indústrias fabricantes de agrotóxicos em 2010 ficaram com apenas seis
grandes empresas de capital estrangeiro.
a) Analise a afirmação II, considerando a afirmação
I.
b) Qual o processo a que se refere a afirmação III?
Explique.
c) Indique dois impactos socioambientais
decorrentes do uso de agrotóxicos.
Pergunta: Considere as afirmações
I, II e III.
I: Há dois elementos fundamentais na agricultura que a diferem da indústria: o primeiro deles é o tempo da natureza.
II: Em 2009, o Brasil alcançou o primeiro lugar no ranking mundial de consumo de agrotóxicos.
I: Há dois elementos fundamentais na agricultura que a diferem da indústria: o primeiro deles é o tempo da natureza.
II: Em 2009, o Brasil alcançou o primeiro lugar no ranking mundial de consumo de agrotóxicos.
III: Ressalte-se que 92% da receita líquida gerada pelas indústrias fabricantes de agrotóxicos em 2010 ficaram com apenas seis grandes empresas de capital estrangeiro.
a) Analise a afirmação II, considerando a afirmação I.
b) Qual o processo a que se refere a afirmação III? Explique.
c) Indique dois impactos socioambientais decorrentes do uso de agrotóxicos.
Respostas:
Cléber Folgado - Dirigente
Nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Coordenador
Operativo da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
Resposta para questão A:
A afirmação de que em 2009 o Brasil alcançou o
primeiro lugar no ranking mundial de consumo de agrotóxicos é errada: isso se
deu, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa
Agrícola –Sindag, no ano de 2008, quando nosso país alcançou a marca dos 700
milhões de litros de agrotóxicos legalmente comercializados.
Na agricultura é importante considerar o tempo da
natureza, e considerando o uso de agrotóxicos, tem-se construído um ciclo
vicioso de uso de insumos químicos na agricultura, na medida em que os venenos
são jogados nas lavouras, desequilíbrios ambientais são causados o que por sua
vez gera a proliferação de “pragas” e a infertilidade da terra exigindo maior
uso de insumos. Dessa forma para manter os níveis de produção são necessários
mais insumos químicos que não resolvem o problema, apenas conseguem servir como
medida paliativa, gerando assim o ciclo vicioso.
Em médio e longo prazos, essa relação de
superexploração dos recursos naturais, em especial da terra, com base no uso de
agrotóxicos, extrapola o limite e o tempo que a biodiversidade pode suportar.
Dessa forma, seguir mantendo o uso de agrotóxicos significa gerar problemas
irreversíveis na agricultura que afetarão não só o campo, mas toda indústria e
a população em seu conjunto.
Resposta para a questão B:
A afirmação III se refere ao oligopólio existente
na produção de agrotóxicos. Oligopólio é uma forma evoluída de monopólio, em
que um grupo de empresas domina a oferta de um determinado tipo de produto ou serviço.
No caso especifico, estamos falando do oligopólio existente na produção e
comercialização de agrotóxicos.
Atualmente, apenas 6 empresas transnacionais
controlam 67,8% de todo mercado mundial de agrotóxicos, são elas Basf, Bayer,
Monsanto, Syngenta, Dow e DuPont. Esse mercado movimentou em 2011 mais de 8
bilhões de dólares.
Resposta para a questão C:
Um dos principais impactos socioambientais
decorrentes do uso de agrotóxicos está relacionado aos problemas gerados na
saúde da população, pois tanto produtores quanto consumidores estão sujeitos a
doenças resultantes das contaminações crônicas ou agudas geradas pelos
agrotóxicos.
Esse problema, além de afetar a saúde das pessoas,
também atinge a economia: segundo pesquisa feita pelo economista do IBGE Wagner
Soares, cada dólar gasto com a compra de agrotóxicos pode gerar o gasto para os
cofres públicos de US$ 1,28 em tratamentos de saúde das pessoas contaminadas.
Segundo o economista, esse valor é subestimado, pois sua pesquisa contabilizou
apenas as intoxicações agudas. Vale lembrar que além da subnotificação das
intoxicações agudas, as intoxicações crônicas são as que têm maior custo no
tratamento.
Outro impacto que vale destacar é a contaminação da
água, pois os agrotóxicos despejados nas lavouras penetram no solo e, além de
contaminar a terra, atingem os lençóis freáticos - afetando assim animais,
plantas e pessoas que se abastecem destas águas. Tais contaminações geram
processos de metamorfoses nos animais e contaminações crônicas e agudas nas
pessoas que se transformarão em doenças como câncer e outras.
Prof. Dr. Marco Antonio Mitidiero
Junior - Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Comentário geral sobre questão
dissertativa da FUVEST.
É interessante o fato de o Brasil alcançar o topo
do ranking na utilização e consumo de agrotóxicos e a sociedade civil (o povo,
o consumidor) não se manifestar a respeito deste triste “título” que o país
leva. Em 2009, alcançamos o topo do ranking de envenenamento da produção de
alimentos, utilizando aproximadamente 5,8 litros de agrotóxicos por habitantes,
e essa questão não entrou efetivamente na agenda de debate em nenhuma das
dimensões da vida social nacional.
Incisivamente os movimentos sociais tentam colocar
esse tema em pauta, mas o governo brasileiro, os políticos, os agentes
econômicos e a mídia vedam os olhos frente o infeliz título. Diante desse
contexto, a sociedade civil parece ora desconhecer, ora desmerecer um tema que
vem trazendo inúmeros e gravíssimos impactos à saúde humana e ao ambiente
natural.
Não é difícil encontrar as causas dessa paralisia
da sociedade civil diante do envenenamento da vida. A articulação entre
administradores públicos, representantes do povo no parlamento (os políticos) e
agente econômicos (as multinacionais) dominam as ações públicas e privadas que
garantem a livre circulação e a livre aplicação de agrotóxicos na agricultura.
O fato de apenas 6 grandes empresas dominarem mais de 90% dos lucros obtidos
com a venda de veneno para agricultura é o resultado mais claro dessa
articulação.
O monopólio da venda de veneno é o reflexo amargo
de uma agricultura subordinada diretamente ao capital transnacional, sendo que
para esse capital não pode haver barreiras ao seu desenvolvimento. Se agredir a
saúde humana e a natureza for condição prévia para o desenvolvimento desse
capital, que se agrida homens, mulheres e crianças e que destrua ambientes
naturais!
São muitos e variados os impactos socioambientais
decorrentes do uso de agrotóxico. Três deles, dentre muitos, vale ressaltar,
deveriam alertar a sociedade civil dos impactos nefastos da utilização e
consumo de venenos. O primeiro deles é a interferência direta no ciclo natural
da reprodução dos cultivos e das espécies que se relacionam ao ambiente de
plantação, em outras palavras, o uso de veneno mata todo o tipo de vida
(insetos, gramíneas etc), exceto a plantação de determinada cultura, num dado
ambiente onde é aplicado o veneno (estrategicamente chamado pelas
multinacionais de “defensivo agrícola”).
Num fim último, o veneno tem a função de garantir a
produção rápida, como se faz na indústria, da mercadoria cultivada. Tenta-se
transformar a natureza, a terra cultivada, numa planta fabril, desrespeitando o
tempo natural de crescimento das plantas e a vida que se relaciona a ela.
Um segundo impacto emerge diante de um crescimento
exponencial da incidência de câncer na população brasileira. Existem inúmeras
pesquisas realizadas por importantes institutos de pesquisas e renomados
cientistas correlacionando o aparecimento de células cancerígenas ao consumo de
agrotóxicos.
Por fim, um terceiro impacto que tem enorme
significado ao debate sobre a garantia da vida humana são os efeitos do
Glifossato, veneno de maior utilização nas lavouras brasileiras, ao homem do
campo, ao produtor de alimento. Pesquisas mostram que o contato direto com o
Glifosato, principalmente nos momentos de aplicação na plantação, atuam de
forma destrutiva no órgão reprodutor masculino, podendo deixar o lavrador
estéril.
Ou seja,
o Glifossato é um tipo de agrotóxico que elimina a vida pela raiz.Dessa forma,
urge que a sociedade civil levante para esse debate e que produza ações que
visem transformar a produção agrícola no Brasil, direcionando a produção de
alimento como garantia da reprodução da vida e não como se configura
atualmente: aproximando-se da morte.
Fonte:http://www.mst.org.br/content/quest%C3%A3o-sobre-agrot%C3%B3xicos-em-vestibular-suscita-reflex%C3%B5es-sobre-o-tema
Nenhum comentário:
Postar um comentário