Transição agroecológica e construção participativa do conhecimento para a sustentabilidade é o título da publicação que está disponível para download
Embrapa Meio Ambiente 09/01/2013 |
O
livro “Transição Agroecológica – construção participativa do conhecimento para
a sustentabilidade” traz os resultados das atividades de projeto da Embrapa, de
2009 a 2010. Com 297 páginas, os editores técnicos são Carlos Alberto Barbosa
Medeiros, Flávio Luiz Carpena Carvalho, André Samuel Strassburger, da Embrapa
Clima Temperado (Pelotas, RS).
Conforme
Clenio Nailto Pillon, Chefe Geral da Embrapa Clima Temperado, “os primeiros
resultados do esforço de construção do conhecimento estão nesse trabalho. Ainda
que parciais, demonstram que muito já se evoluiu em direção ao objetivo central
do projeto, que é apoiar processos de transição a uma agricultura sustentável,
através da construção participativa do conhecimento agroecológico”.
O
pioneirismo é atribuído ao fato de ser a primeira proposta de pesquisa a reunir
técnicos da Embrapa e instituições parceiras para trabalharem com um objetivo
comum, a construção do conhecimento agroecológico.
Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente participam
da obra
Francisco
Miguel Corrales, técnico da Unidade, escreveu sobre o intercâmbio de
conhecimentos e tecnologia de base agroecológica a partir da rede de unidades
de referência da região leste do Estado de São Paulo.
Conforme
Corrales, na região leste do Estado de São Paulo encontram-se 70.046
agricultores, 44,8% destes em sistema de produção familiar, com destaque para
atividades em pecuária leiteira, olericultura, cafeicultura e fruticultura.
Agricultores dessa região vêm procurando o intercâmbio de conhecimentos em
busca de práticas que conciliem conservação dos recursos naturais, geração de
renda e qualidade de vida.
As
atividades relatadas nesse capítulo referem-se a processos de transferência de
tecnologias apropriadas a sistemas de agriculturas ecológicas, realizadas a
partir da articulação regional entre instituições representativas dos
agricultores, das organizações de pesquisa agropecuária, agentes locais de
extensão rural e de grupos de consumidores. Dessa maneira, está sendo
constituída a Rede de Agroecologia do Leste Paulista (também conhecida como
Mantiqueira-Mogiana), que atua num território formado por 40 municípios dessa
região.
Foram
selecionadas as principais demandas regionais, com destaque para aspectos
relacionados ao manejo do solo, pragas, doenças e plantas espontâneas;
processamento artesanal de alimentos e educação alimentar. Foi iniciada a
implantação de 26 unidades de referência localizadas em estabelecimentos rurais
do leste paulista, representativas dos principais sistemas de produção da
região. Em algumas dessas glebas já há sinais claros de evolução no sentido de
uma agricultura biodiversa, em manejos promotores da conservação dos recursos
naturais e promotores da qualidade de vida. Outro avanço observado foi a
articulação regional na temática da Agroecologia entre instituições
representativas dos agricultores, organizações de pesquisa agropecuária,
agências de extensão rural e grupos de consumidores.
Os
assentamentos sustentáveis nas regiões de Ribeirão Preto, Itapeva, Serrana e
Serra Azul, no Estado de São Paulo foram abordados pelo pesquisador João Carlos
Canuto.
“Os
assentamentos rurais são a manifestação mais concreta da agricultura familiar
no Estado de São Paulo, onde a modernização agrícola quase extinguiu a
agricultura tradicional”, explica Canuto. A atividade contemplou diferentes
regiões do estado: região de Andradina (oeste), onde predominou o trabalho com
sistemas sustentáveis de produção de leite; Ribeirão Preto, Serrana e Serra
Azul (norte), onde o trabalho teve como atenção os sistemas agroecológicos e
agroflorestais em áreas individuais e em áreas coletivas de Reserva Legal e a região
de Itapeva (sul), onde o trabalho foi concentrado em sistemas agroflorestais. O
foco unificador do trabalho foi a construção do conhecimento agroecológico para
as realidades de assentamentos de reforma agrária. Os métodos utilizados
contemplaram basicamente a pesquisa participativa e a articulação com parcerias
locais e regionais.
Observou-se
a melhoria da qualidade dos recursos solo, água, agrobiodiversidade e
biodiversidade em geral, seguidas da mudança da paisagem. Além da ampliação das
alternativas de nutrição da família, detectou-se ainda a melhoria das condições
de trabalho, melhor conforto térmico e menor penosidade. Deve ser salientada a
redução dos custos de insumos e mão-de-obra a partir de três anos de
estabelecimentos de sistemas agroflorestais, além da abertura de alternativas
de mercado diferenciado e melhoria da renda. Saliente-se ainda o reforço nos
processos de qualificação das relações de parceria, dos processos
participativos e dos métodos de pesquisa. O trabalho também proporcionou a prospecção
de novas demandas de pesquisa, tais como, papel ecológico das espécies,
desenhos mais racionais e tecnologias de manejo.
Lucimar
Abreu, pesquisadora, abordou a adaptação e desenvolvimento de metodologia de
natureza compreensiva de abordagem dupla: das ciências humanas e agroambiental
no capítulo “Desenvolvimento de metodologias de interação das ciências sociais
e agroambientais”.
Foram
analisadas as trajetórias de transição de produtores de base ecológica de
Ibiúna, SP, com a identificação e caracterização de indicadores sociais de
sustentabilidade. A pesquisa mostrou a pertinência da metodologia para a
reconstrução das trajetórias de transição de agricultores familiares,
associando a dimensão das relações sociais e econômicas (sociológica) com a produção
de alimentos (agronômica). Essa abordagem dupla dos processos de transição
possibilitou identificar um conjunto de indicadores sociais de sustentabilidade
e gerou conhecimentos qualitativos sobre a dinâmica de funcionamento dos
processos de transição agroecológica em curso, numa microbacia.
O
capítulo “Construção do conhecimento e de tecnologias agroecológicas com os
agricultores familiares do Pontal do Paranapanema, SP”, elaborado pelo
pesquisador Mário Urchei, descreve sobre os objetivos e resultados alcançados
na ação de construção, em conjunto com os agricultores familiares do Pontal do
Paranapanema, de conhecimentos, metodologias e tecnologias adaptadas à
realidade sociocultural desse território, com a finalidade de viabilizar e
estruturar sistemas agrícolas mais integrados e biodiversos voltados à
transição agroecológica.
Foram
implantadas onze unidades de referência em cinco municípios visando construir e
socializar o desenvolvimento de ações para viabilizar a diversificação dos
sistemas de produção dos agricultores familiares da região numa perspectiva
agroecológica. Além disso, iniciou-se o desenvolvimento de um trabalho de
recuperação, organização e sistematização das informações socioeconômicas e
agrícolas do Pontal como subsídio ao planejamento territorial sustentável.
Apesar
das dificuldades encontradas pelos agricultores, decorrentes de um histórico e
de uma realidade extremamente desfavoráveis, as ações empreendidas até o
momento têm possibilitado criar uma sinergia entre os diferentes atores no
sentido de desenvolver e trabalhar experiências mais integradas, num diálogo e
numa construção contínua de processos, princípios e tecnologias objetivando à
transição agroecológica, fortalecendo a autonomia e contribuindo com o
empoderamento dos agricultores.
No
capítulo escrito pelo pesquisador Ricardo de Camargo foram abordados os
processos de instalação de unidades de referência em sistemas agroflorestais e
recuperação de áreas degradadas em Franca, SP e região. Ações estas que estão
sendo desenvolvidas pela execução de projeto coordenado pelo pesquisador na
região de Franca que a partir da construção do conhecimento agroecológico
pretende contribuir com a sustentabilidade do meio rural do município de Franca
e de seu entorno.
As
escolhas dos desenhos de implantação das unidades de referência, assim como os
respectivos “carros-chefes” dos sistemas agroflorestais implantados levaram em
consideração os desejos dos agricultores e as características locais de
produção.
A
atividade permitiu a disseminação e aplicação dos conceitos da Agroecologia e
de sistemas agroflorestais em regiões sem tradição em práticas agrícolas de
base ecológica, tendo como resultados a redução da dependência da aquisição de
insumos químicos nos cultivos, a melhoria da autoestima dos produtores
envolvidos pela consideração dos saberes tradicionais e pelas práticas de
pesquisa participativa, e o fortalecimento das relações entre agricultores e
técnicos pela troca de saberes e experiências. Observou-se a disseminação de
novas tecnologias e atividades, com ampliação das possibilidades de cultivos e
de criações de pequenos animais (abelhas), o que além de gerar novas
oportunidades de mercado e inserção em nichos específicos antes inexplorados
(mercado de orgânicos e compras governamentais), proporcionou melhoria nos
aspectos nutricionais dos produtores envolvidos, pela disponibilidade de novos
produtos (mel, pólen) e pela melhor qualidade dos alimentos, agora, isentos de
agrotóxicos. Observou-se ainda melhoria da interação e sinergia entre os órgãos
municipais ligados a questão agrária e rural da região de Franca.
Para
acessar o livro, clique aqui.
http://www.diadecampo.com.br/zpublisher/materias/Materia.asp?id=27695&secao=Agrotemas
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