Acampadas desde ontem na unidade de Goiânia, trabalhadoras rurais exigem a retirada do projeto que abre o capital da Embrapa e querem mais incentivos para a agroecologia
Por: Cida de Oliveira, Rede Brasil AtualAgricultoras reivindicam manutenção da Embrapa como empresa pública, em unidade de Goiânia (Foto: ©Elizângela Araújo)
São Paulo – Acampadas desde a madrugada de ontem (5) na unidade Arroz e Feijão da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em Goiânia, agricultoras ligadas a movimentos de luta por justiça no campo deverão ser recebidas nesta tarde pelo presidente da empresa, Pedro Arraes. A manifestação, apoiada pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Pastoral da Juventude Rural (PJR), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), entre outros, conta com aproximadamente 500 trabalhadoras rurais.Elas são contrárias ao Projeto de Lei do Senado (PLS) 222/08, de Delcídio Amaral (PT-MS), que propõe alterar o estatuto social da estatal vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, transformando-a em empresa de economia mista. O projeto, que tramita no Senado, prevê a manutenção do controle pela União.
“Defendemos a Embrapa 100% pública, estatal, e a retirada do projeto”, afirma Rosana Fernandes, coordenadora da Via Campesina. Segundo ela, a direção da empresa intermediou um pedido de audiência com o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, sem resposta até o momento.
De acordo com lideranças do movimento, uma pauta foi entregue ao chefe-geral da unidade, que se comprometeu a entregá-la ao presidente da Embrapa e ao ministro da Agricultura. As reivindicações contemplam a proposta de modelo dos movimentos rurais para a agricultura, a participação no Conselho de Administração da empresa e incentivos para um programa de pesquisas para a agricultura familiar camponesa agroecológica, com contratação de novos pesquisadores e pessoal de apoio à pesquisa.
Segundo Rosana, a Embrapa foi escolhida para a ocupação por ter priorizado a pesquisa para os grandes empresários e o agronegócio, incentivando o uso de agrotóxicos. “E a unidade que pesquisa arroz e feijão, prato típico do povo brasileiro, é simbólica para as questões que queremos debater com toda a sociedade.”
A ocupação integra a Jornada de Lutas das Mulheres Camponesas 2012, que reúne militantes da Via Campesina, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), CPT e MPA, entre outros.
O presidente do Sinpaf, Vicente Almeida, afirmou que a luta das camponesas, que é legítima, deve ser apoiada pelos trabalhadores da Embrapa. “Elas lutam por reforma agrária, priorização da pesquisa para a agricultura agroecológica e pela manutenção e fortalecimento da Embrapa como empresa 100% estatal. Esses pontos também compõem a nossa luta.”
A jornada tem como objetivo denunciar o capital estrangeiro na agricultura e as empresas transnacionais. A intenção da jornada, que se dá nesta semana em que se comemora do Dia Internacional da Mulher, é chamar a atenção da sociedade para a destruição do meio ambiente e as ameaças à soberania alimentar do país impostas pelo agronegócio.
Professora Adjunta do Departamento de Educação UFRPE
Nucleo de Agroecologia e Campesinato - NAC
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