quinta-feira, 26 de abril de 2012

Semeando a Agroecologia nos quintais da cidade

Em pequenos potes, na laje da casa e até mesmo na escola, o aproveitamento de espaços na cidade para cultivar alimentos de forma agroecológica, resgata práticas culturais relacionadas à agricultura e à saúde, gera renda para as famílias e estimula práticas comunitárias de partilha de conhecimentos. O Projeto Semeando Agroecologia, com o patrocínio da Petrobrás, por meio do programa Petrobrás Desenvolvimento e Cidadania, busca fortalecer a Rede de Agricultura Urbana do Rio de Janeiro incentivando o intercâmbio e a difusão de experiências de agricultura na cidade.
De onde vem a comida que comemos?
Ao tentar responder essa pergunta, logo vem à mente dos moradores das grandes cidades a imagem de caminhões repletos de caixas de frutas, legumes e verduras, vindos do interior. Os alimentos são descarregados nos centros de abastecimento como a Ceasa do Rio de Janeiro, para depois chegar aos mercados e feiras-livres. Por que a nossa comida deve vir de tão longe? Por que nas cidades os espaços de tornaram menores, mais construídos e mais cimentados. Prioriza-se a circulação de veículos e a construção de edificações. Cresce o comércio e molda-se a paisagem urbana. O morador da cidade não é aquele que cultiva a terra para obter seu sustento, mas compra seus alimentos.
No entanto, a intensa urbanização das cidades brasileiras não sufocou as práticas agrícolas; antes disso, trouxe agricultores e agricultoras de diferentes regiões do país para morar nos centros urbanos. A população de origem rural que reside nas cidades preserva práticas culturais e, muitas delas, ainda cultivam seus alimentos, plantas medicinais ou criam pequenos animais para reprodução de tradições alimentares e de sociabilidade dos seus locais de origem nos espaços intraurbanos.
A Rede de Agricultura Urbana
Com o objetivo de resgatar e fortalecer estas práticas, o Programa de Agricultura Urbana da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia vem, desde 1999, estimulando o cultivo de alimentos e plantas medicinais nos quintais da Zona Oeste do Rio de Janeiro, promovendo a agricultura urbana por meio da troca de experiências entre pessoas e organizações. Os Encontros de Experiências de Agricultura e Saúde na Cidade, realizados em 2005, 2007 e 2009 ajudaram a fortalecer os laços entre as pessoas e a encorpar o debate sobre a prática da agricultura nas cidades. Durante o último Encontro foi fortalecida uma rede de iniciativas, chamada Rede de Agricultura Urbana, reunindo pessoas e organizações para debater e praticar agricultura nos espaços urbanos, incentivando o cultivo de alimentos saudáveis, valorizando os conhecimentos relacionados à agricultura e saúde e o aproveitamento dos recursos locais. A Rede se encontra uma vez ao mês, para trocar experiências e debater questões relevantes nos locais onde se pratica agricultura urbana.
Dona Cleonice e Dona Varlene fazem parte desta Rede através da Congregação Servas de Maria e desenvolvem, desde 2011, um trabalho com jovens estudantes do CIEP Togo Renan em Campo Grande. Em uma parceria com a escola, o projeto está implementando uma horta com os alunos nos períodos em que eles não estão em sala de aula. Segundo Cleonice, ou Cleo como é chamada por todos, o objetivo da Casa de Projetos da Congregação Servas de Maria é levar para a escola um projeto de melhoria da alimentação dos jovens através do cultivo e consumo de alimentos saudáveis. “Nós já plantamos couve, tomate, salsa, mostarda, aipim, batata doce e abóbora. Nós fazemos sucos diferentes como de inhame com morango, limão com capim limão, para os meninos provarem outros sabores não convencionais.”
A horta da escola conta com o apoio da equipe técnica do Projeto Semeando Agroecologia, que já está organizando uma oficina de compostagem com os jovens, suas famílias e os professores da escola para ajudar na implantação de um sistema de coleta e processamento do lixo cru produzido na escola para a produção de adubo para a horta. A professora de Ciências, Carolina, também ficou animada com a horta da escola e aposta que pode utilizar o espaço para fazer aulas práticas: “Um minhocário seria muito bom para trabalhar alguns conteúdos de sala de aula e o trabalho na horta pode complementar o nosso currículo escolar.
Os alunos são bastante animados, trazem mudas e sementes e levam outras para suas casas. Maycon Gomes do 7° ano do ensino fundamental, conta animado que levou algumas mudas para a sua casa e como não tinha espaço para plantar, reutilizou uma caixa de isopor para fazer um canteiro: “Minha mãe foi contra no início, mas a professora Cleo foi conversar com ela e disse que ela deveria incentivar e ela agora gosta muito das plantas”.
A visita às famílias
Cleo conta que as atividades da escola são complementadas com visitas às casas dos alunos para que as famílias possam entender um pouco mais sobre o trabalho na horta e estimular o cultivo das plantas nos quintas de suas casas, bem como o hábito de consumir alimentos mais saudáveis: “Eu falo para os pais que devem continuar incentivando os meninos a plantarem, pois é muito importante consumir estes alimentos saudáveis, plantados sem agrotóxicos. Além disso, se eles plantam em casa já não precisam comprar no mercado e é sempre um dinheiro que vão economizar.
Cleo aposta muito no incentivo que os filhos possam dar aos pais para o cultivo dos alimentos, pois foi pela influência de seu filho João Lucas e seu neto Dener que ela começou a plantar. Os meninos frequentavam a “Casa de Projetos” da Congregação Servas de Maria onde cultivavam uma horta junto com outros jovens do bairro e as primeiras plantas do rico quintal da família de Cleo vieram de lá: “hoje tem muita coisa no meu quintal, tem muita fruteira, couve, cará, erva-cidreira, tomates, galinha, pato e uma compostagem e todo mundo trabalha junto no quintal”. Hoje, o espaço cultivado pelos jovens da Congregação se tornou unidade de produção, que é apoiada pelo Projeto Semeando Agroecologia.
João Lucas gosta de plantar e hoje, além do trabalho na unidade produção, ajuda Cleo e Varlene nas oficinas do CIEP, que muitas vezes junta mais de 20 estudantes para trabalhar a terra. Thalyson Gomes mostra as mudas que trouxe de casa em uma garrafa Pet e conta animado que o trabalho na horta vale pontos para a escola: “A gente ganha pontos de participação e acaba melhorando a nota no final do semestre”.
A prática da agricultura urbana em suas diferentes dimensões mostra suas potencialidades. A melhoria da alimentação e da geração de renda indireta por meio da produção de alimentos saudáveis, aliados ao envolvimento da juventude, pode trazer mudanças significativas tanto para as escolas como para as famílias envolvidas, além de aproximar alunos, famílias, professores e comunidade escolar em torno de um projeto de melhoria da qualidade vida.
http://aspta.org.br/2012/04/semeando-a-agroecologia-nos-quintais-da-cidade/

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