Produção de transgênicos aumenta,
debate diminui e problemas aparecem
Por Rafael Zanvettor, Da Caros Amigos
Desde sua primeira regulamentação em lei,
datada de 1995, o uso de organismos geneticamente modificados (OGMs) no Brasil
só aumentou, enquanto se multiplicavam também discussões éticas e o
aparecimento de marcos regulatórios sobre o tema. A dificuldade em estabelecer
um parâmetro para o possível perigo de alimentos transgênicos, ou para seus
efeitos sócio-econômicos na produção agrícola, foi pautada até o presente pela
falta de estudos sobre o uso relativamente recente dessa biotecnologia.
O crescimento do uso dos transgênicos no
Brasil, no entanto, está diretamente relacionado ao aumento de problemas nas
lavouras. A gestão de OGMs no pais é centralizada na Comissão Técnica Nacional
de Biossegurança (CTNBio), responsável por elaborar pareceres técnicos sobre os
OGMs e liberando-os ou não para uso na agricultura e consumo humano. Os milhos
transgênicos liberados pela CTNBio sofrem manipulação genética para cumprir
dois objetivos: aumentar a tolerância a herbicidas e aumentar a resistência a
insetos.
Paraná
Mas o que tem acontecido no Estado do
Paraná, onde 88,9% das plantações de milho são transgênicas, segundo a
consultoria Céleres, vai na contramão do que é propagandeado pelas empresas
produtoras dessas sementes - clique e confira o relatório da empresa. Os milhos,
que deveriam ser resistentes às pragas, principalmente a lagartas que atacam as
plantações, estão tornando os bichos cada vez mais resistentes. Segundo
pesquisa realizada pelo professor Bruce Tabashnik, da Universidade do Arizona,
que analisa o uso de OGMs na agricultura do mundo todo, entre 1996 e 2007,
constata que a partir de 2003 começaram a aparecer espécies de pragas
resistentes à biotecnologia usada para afastá-los.
No Estado, um dos casos mais
emblemáticos, a lagarta-da-espiga, que tem aparecido por plantações de OGMs,
seria uma das pragas que não é afetada pela principal toxina inserida
geneticamente no milho, cristalizada da bactéria Bacillus thuringiensis,
conhecida como toxina Bt. Segundo o engenheiro agrônomo Ivan Domingos Paghi,
diretor técnico da Associação de Produtores de Grãos não Geneticamente
Modificados (Abrange), a situação do Paraná é crítica, e muito perigosa para a
agricultura brasileira.
Ele afirma que "a lagarta-da-espiga
sempre existiu, mas a lagarta-do-cartucho comia ela. Ela (lagarta-da-espiga)
era uma praga secundária e agora passou a ser uma praga primária", diz
ele. Hoje, afetadas pela toxina Bt, a população de lagarta-do-cartucho decaiu e
a lagarta-da-espiga não tem mais o predador que tinha antes. Ao mesmo tempo, os
agricultores passaram a comprar o milho transgênico ao invés de gastar com
outras formas de controle de praga, e com isso, a lagarta-da-espiga está fora
do controle.
Os efeitos nefastos do milho com a toxina
Bt também afetaram as próprias lagartas-do-cartucho, alvos inicias da toxina,
que começaram a criar resistência à toxina Bt inserida no milho em poucas
safras. A maioria dos agricultores usam o milho transgênico NK603, da Monsanto.
O Custo do OGM
Além disso, segundo o diretor da Abrange,
"os inseticidas que estão liberados no Brasil não controlam mais essa
lagarta. O Brasil vai trazer novas moléculas do exterior para fazer um
inseticida para matá-las. Além de atacar o milho, a lagarta está migrando para
o algodão e para a soja". Com essa migração, o caso está se tornando um
problema de segurança nacional e é por isso que o governo faz uma busca urgente
por novos inseticidas.
Ele afirmou que a toxina usada no milho
manipulado está indo pra soja também. E pergunta: "Até onde compensa
plantar OGM, que custa 5 vezes mais? O agricultor vai ter que continuar usando
inseticida e pagando um preço absurdo na saca". Afligidos pela praga da
lagarta, os produtores do Paraná têm tido dificuldade para encontrar a semente
de milho comum, pois as grandes produtoras multinacionais, como a Monsanto,
fecham o mercado para o milho comum.
Por fim, o diretor afirmou que
geralmente, quando o agricultor compra o milho convencional, "ele tem a
safra contaminada, porque se tiver sua lavoura de milho convencional a menos de
dois quilômetros de uma lavoura de milho GM, o vento pode levar o pólen e
contaminar a lavoura convencional".
As perdas para a agricultura são enormes
e segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), os
prejuízos devem chegar a R$ 1 bilhão nas lavouras de soja e algodão na Bahia,
contaminadas pela lagarta.
Desenvolvimeno
O uso dos transgênicos no Brasil começou
a ser regulamentado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, na Lei de
Biossegurança (n° 8.974), que nasceu da necessidade de adequar os artigos da
Constituição que versam sobre o meio ambiente com o desenvolvimento da
manipulação genética na agricultura. Foi então que se criou a CTNBio.
O Brasil é hoje o segundo maior produtor
de alimentos transgênicos do mundo, ficando atrás apenas dos EUA - essa
colocação do País no ranking mundial é basicamente devido à monocultura da
soja. Segundo pesquisa da consultoria em agronomia Céleres, em 2011, o Brasil
contava com 30,3 milhões de hectares, enquanto os EUA, 69 milhões. No Brasil, a
maior commoditie transgênica é a soja, cujo cultivo transgênico está previsto
para atingir neste ano 88,8% do total a ser plantado em 2013. Segundo a
consultoria, o uso de transgênicos chegará a 37,1 milhões de hectares nesse
ano, o que representará 54,8% da área de cultivo do País, que segundo o IBGE
soma 67,7 milhões de hectares. Os principais estados produtores de OGMs são,
por ordem, o Mato Grosso, o Paraná e o Rio Grande do Sul.
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