Espaço de comunicação da Articulação Nacional de Agroecologia na Amazônia
domingo, 24 de agosto de 2014
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
domingo, 10 de agosto de 2014
Privatização do estado brasileiro: é o que quer a Confederação Nacional da Agricultura (CNA)
Privatização do estado brasileiro: é o que quer a Confederação Nacional da Agricultura (CNA)
Senão, vejamos:
REIVINDICAÇÃO: “Ampliação de instrumentos de gerenciamento de riscos na agropecuária que assegurem rentabilidade compatível com a de outros setores da economia”;
TRADUÇÃO: querem que paguemos pela ineficiência dos pecuaristas brasileiros que mantêm, em média, menos de uma cabeça por hectare em seus pastos.
REIVINDICAÇÃO: “Política agrícola diferenciada para as regiões Norte e Nordeste; para os produtores que enfrentam a concorrência de produtos oriundos do Mercosul”;
TRADUÇÃO: os caras se instalam em regiões não competitivas ou são incompetentes frente a seus concorrentes e querem que paguemos por isto por meio das tais “políticas diferenciadas”.
REIVINDICAÇÃO: “Aceleração dos investimentos e da concessão de trechos rodoviários utilizados no escoamento da produção agropecuária, observando o menor custo para o usuário”;
TRADUÇÃO: os caras se metem na Amazônia ou lá no fundão do cerrado, desmatam afetando comunidades tradicionais e indígenas, destroem a biodiversidade e emitem um montão de gases de efeito estufa e, depois, querem que paguemos os investimentos para que a produção seja levada aos mercados com o menor custo possível para eles mesmos.
REIVINDICAÇÃO: “Estabelecimento de um novo marco regulatório para registro e reavaliação de agroquímicos e fertilizantes” e “Criação de um colegiado técnico para reduzir a ingerência ideológica nas análises e acelerar a conclusão dos processos dos agroquímicos”;
TRADUÇÃO: não contentes em liderar a agricultura que mais consome agrotóxicos no mundo, o agronegócio quer leis que facilitem ainda mais a utilização de agrotóxicos e, mais, não querem ninguém com visão sistêmica entre aqueles que aprovam os agrotóxicos, só gente de “visão técnica” (tradução dentro da tradução, gente ligada ao agronegócio e às empresas produtoras de agrotóxicos).
REIVINDICAÇÃO: “Regulamentação da Emenda Constitucional nº 81” e “Revisão das normas que regulamentam o trabalho, como a NR 31 e a NR 15, observando as peculiaridades do setor agropecuário”;
TRADUÇÃO: fica difícil uma tradução, dada a contradição entre as demandas, mas que tal uma pergunta que pode facilitar nossa interpretação? Lá vai: quem quer ao mesmo tempo regulamentar os critérios para definição de trabalho escravo e revisar exatamente as normas que o definem só pode estar querendo relaxar as regras atuais, concordam?
REIVINDICAÇÃO: “Participação de outros órgãos governamentais [além da FUNAI] na identificação e delimitação de terras indígenas, com assessoramento de equipes técnicas multidisciplinares e “Adoção de medidas que coíbam as invasões de terras por índios e garantam o cumprimento de reintegração de posse de terras invadidas”;
TRADUÇÃO: precisa traduzir?
REIVINDICAÇÃO: “Preservação do direito de propriedade, segurança fundiária e paz no campo” e “Aprimoramento de instrumentos de prevenção de conflitos e de obtenção de terras, especialmente por meio da aquisição onerosa pelo governo”;
TRADUÇÃO: chega de reforma agrária e, paguem as terras que um dia grilei.
REIVINDICAÇÃO: “Garantia efetiva do contraditório e da ampla defesa aos proprietários rurais nos processos de identificação e titulação de terras de remanescentes de comunidades de quilombos”;
TRADUÇÃO: queremos gerar com nosso dinheiro longos processos que garantam nosso direito à terra quilombola.
REIVINDICAÇÃO: “Regularização fundiária em área rural, mediante a transferência das áreas da União aos estados da Amazônia Legal”;
TRADUÇÃO: entreguem as terras de propriedade da União aos interesses políticos locais que controlamos mais facilmente.
REIVINDICAÇÃO: “Edição de um novo marco regulatório para viabilizar as atividades de empresas brasileiras de capital estrangeiro que já operam, ou venham a operar, em território nacional” e “Eliminação das restrições e limitações à aquisição ou arrendamento de terras para a produção rural, sem prejuízo de controles cadastrais que o governo considere prudente manter”;
TRADUÇÃO: chega de restrições “ideológicas” ao grande capital internacional.
REIVINDICAÇÃO: “Regras claras e discussão com o setor rural para definição de novas áreas de proteção ambiental”;
TRADUÇÃO: nós não queremos mais parques e unidades de conservação na Amazônia e no Cerrado, pra que? Mas se ainda assim vocês insistirem, terão que pedir nossa benção.
REIVINDICAÇÃO: “Compartilhamento da gestão ambiental pelos ministérios cujas ações envolvam questões ambientais, substituindo-se o sistema de comando e controle por um novo sistema de gestão ambiental”;
TRADUÇÃO: chega de fiscais e multas ambientais, queremos incentivos monetários para cumprir o que a lei ambiental estabelece.
O documento da CNA pode ser acessado em: http://www.canaldoprodutor.com.br/sites/default/files/Sumario%20Executivo%20Proximo%20Presidente%202015-2018_WEB.pdf
de rerun natura: Privatização do estado brasileiro: é o que quer a ...:
Agroecologia e o fornecimento de alimentos - Maria Emília Pacheco (CONSEA)
Enviado por Articulação Nacional de Agroecologia ANA
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
Promessas de outro tipo de Transformação(III)
![]() |
Dinâmica de fortalecimento no encontro do Fórum da Amazônia Oriental (FAOR) em Altamira (Rio Xingu antes da construção de Belo Monte, Pará, Foto:Vânia Carvalho |
Leonardo Boff
Para pormos em curso outro
tipo de Grande Transformação que nos devolta a sociedade com mercado e elimine
a deletéria sociedade unicamente de mercado, precisamos fazer algumas
travessias improstergáveis. A maioria delas está em curso mas elas precisam ser
reforçadas. Importa passar:
-do
paradigma Império, vigente há séculos para o paradigma Comunidade da Terra;
-de uma
sociedade industrialista que depreda os bens naturais e tensiona as relações
sociais para uma sociedade de sustentação de toda a vida;
-da Terra
tida como meio de produção e balcão de recursos sujeitos à venda e à exploração
para a Terra como um Ente vivo, chamado Gaia, Pacha Mama ou Mãe Terra;
-da era
tecnozoica que devastou grande parte da biosfera para a era ecozoica pela qual
todos os saberes e atividades se ecologizam e juntas cooperam na salvaguarda da
vida.
-da lógica
da competição de se rege pelo ganha-perde e que opõem as pessoas para a lógica
da cooperação do ganha-ganha que congrega e fortalece a solidariedade entre
todos.
-do capital
material sempre limitado e exaurível, para o capital espiritual e humano
ilimitado feito de amor, solidariedade, respeito, compaixão e de uma
confraternização como todos os seres da comunidade de vida;
-de uma
sociedade antropocêntrica, separada da natureza, para uma sociedade biocentrada
que se sente parte da natureza e busca ajustar seu comportamento à lógica do
processo cosmogênico que se caracteriza pela sinergia, pela interdependência de
todos com todos e pela cooperação.
Se é
perigosa a Grande Transformação da sociedade de mercado, mais promissora ainda
é a Grande Transformação da consciência. Triunfa aquele conjunto de visões,
valores e princípios que mais congregam pessoas e melhor projetam um horizonte
de esperança para todos. Essa seguramente é a Grande Transformação das mentes e
dos corações a que se refere a Carta da Terra. Esperamos que se consolide,
ganhe mais e mais espaços de consciência com práticas alternativas até assumir
a hegemonia da nossa história.
Há um
documento acima citado a Carta da Terra por seu
alto valor de inspiração e gerador de esperança. Ela é fruto de uma vasta
consulta dos mais distintos setores das sociedades mundiais, desde os povos
originários, das tradições religiosas e espirituais até de notáveis centros de
pesquisa. Foi animada especialmente por Michail Gorbachev, Steven Rockfeller, o
ex-primeiro ministro da Holanda Lubbers, Maurice Strong, sub-secretário da ONU
e Mirian Vilela, brasileira que, desde o início coordena os trabalhos e dirige
o Centro na Costa Rica. Eu mesmo faço parte do grupo e tenho colaborado na
redação do documento final e de sua difusão por onde posso.
Depois de
8 anos de intensos trabalhos e de encontros frequentes nos vários continentes,
surgiu um documento pequeno mas denso que incorpora o melhor da nova visão
nascida das ciências da Terra e da vida, especialmente da cosmologia
contemporânea. Ai se traçam princípios e se elaboram valores no arco de uma
visão holística da ecologia, que podem efetivamente apontar um caminho
promissor para a humanidade presente e futura. Aprovado em 2001 foi assumido
oficialmente em 2003 pela UNESCO como um dos materiais educativos mais
inspiradores do novo milênio.
A
Hidrelétrica Itaipu-Binacional, a maior do gênero no mundo, tomou a sério as
propostas da Carta da Terra e seus dois diretores Jorge Samek e Nelton
Friedrich conseguiram envolver 29 municípios que bordeiam o grande lago onde
vive cerca de um milhão de pessoas. Deram início de fato a uma Grande
Transformação. Lá se realiza efetivamente a sustentabilidade e se aplica o
cuidado e a responsabilidade coletiva em todos os municípios e em todos os
âmbitos, mostrando que, mesmo dentro da velha ordem, se pode gestar o novo
porque as pessoas mesmas vivem já agora o que querem para os outros.
Se
concretizarmos o sonho da Terra, esta não será mais condenada a ser para a
maioria da humanidade um vale de lágrimas e uma via-sacra de padecimentos. Ela
pode ser transformada numa montanha de bem-aventuranças, possíveis à nossa
sofrida existência e uma pequena antecipação da transfiguração do Tabor.
Para que
isso ocorra, não basta sonhar, mas importa praticar.
Leonardo Boff escreveu A opção-Terra: a salvação da Terra não
cai do céu, Record 2009.
http://leonardoboff.wordpress.com/2014/08/08/promessas-de-outro-tipo-de-transformacaoiii/
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