Espaço de comunicação da Articulação Nacional de Agroecologia na Amazônia
domingo, 30 de junho de 2013
sexta-feira, 28 de junho de 2013
Biofortificação de alimentos e a monocultura da mente
Enfrentando
a “monocultura da mente” – Bilionários renunciam a cultivos ricos em ferro para
dar lugar às bananas GM na Índia
Vandana
Shiva
Tradução:
Bruno Prado
A natureza
nos deu uma cornucópia de biodiversidade rica em nutrientes. A má nutrição e a
deficiência em nutrientes resultam, por sua vez, da destruição da
biodiversidade. A Revolução Verde disseminou monoculturas químicas de arroz e
trigo, excluindo a biodiversidade de nossas plantações e dietas. E aquilo que
sobreviveu como culturas espontâneas – como as folhas de amaranto (chaulai)
e o chenopodium (bathua), ambos ricos em ferro – foi pulverizado com
venenos e herbicidas. Ao invés de cuidá-los e protegê-los como dádivas ricas em
ferro e vitaminas, esses vegetais foram tratados como “pragas”.
Foto: http://seedfreedom.in |
A
“monocultura da mente” trata a diversidade como doença e cria estruturas
coercivas para remodelar esse nosso mundo biológica e culturalmente diverso a
partir dos conceitos de uma classe privilegiada, uma raça e um gênero de uma
única espécie. Quando a “monocultura da mente” tomou o controle, a biodiversidade
desapareceu de nossas plantações e de nossos alimentos. É a destruição de
dietas e cultivos ricos em biodiversidade que nos levou à atual crise da má
nutrição.
A mais
recente loucura da engenharia genética é empurrar bananas geneticamente modificadas
para a Índia de modo a reduzir a deficiência de ferro das mulheres indianas.
Setenta e cinco por cento das mulheres indianas sofrem de deficiência de ferro.
Um homem
rico cujo nome é Bill Gates está financiando um cientista australiano, James
Dale, que conhece uma espécie, a banana, para impor bananas transgênicas
ineficientes e perigosas a milhões de pessoas na Índia e em Uganda.
O projeto é
um desperdício de dinheiro e um desperdício de tempo. Levará dez anos e milhões
de dólares para que a pesquisa seja terminada. Enquanto isso, governos,
agências de pesquisa e cientistas não conseguirão enxergar alternativas
democráticas, testadas pelo tempo, seguras, de baixo custo e baseadas na
biodiversidade, que estão nas mãos das mulheres.
As mulheres
indianas têm uma riqueza de conhecimento sobre biodiversidade e nutrição
recebida por diversas gerações de suas mães e avós. Qualquer mulher pode lhe
dizer que a solução para a má nutrição está em cultivar a nutrição que, por sua
vez, significa cultivar a biodiversidade.
Para
remover a deficiência de ferro, plantas ricas em ferro deveriam ser cultivadas
em todos os lugares – fazendas, hortas domésticas, hortas comunitárias, hortas
escolares. A deficiência de ferro não foi criada pela natureza e podemos nos
livrar dela nos tornando cocriadores e coprodutores junto à natureza.
Mas há um
“mito da criação” que é cego a ambas – à criatividade e biodiversidade da
natureza assim como à criatividade, inteligência e conhecimento das mulheres.
De acordo com esse “mito da criação” do capitalismo patriarcal, homens ricos e
poderosos são os “criadores”. Eles podem ser proprietários da vida através de
patentes e propriedade intelectual. Eles podem jogar com a evolução milenar e
complexa da natureza e reivindicar que seus atos de manipulação genética –
triviais, contudo destrutivos – estão “criando” a vida, os alimentos e a
nutrição.
A
biodiversidade nativa da Índia oferece ricas fontes de ferro. Por exemplo, o
amaranto tem 11 mg de ferro em 100 gramas do alimento, o trigo sarraceno ou
trigo-mourisco tem 15.5, as folhas de amaranto tem até 38.5, a karonda (Carissa
carandas), 39.1, e o caule de lótus, 60.6.
As bananas
têm somente 0.44 mg de ferro por 100 gramas de porção comestível. Todo o
esforço em aumentar o ferro no conteúdo das bananas será menor que o ferro no
conteúdo de nossa biodiversidade local.
Não apenas
a banana GM não é a melhor opção para prover nossa dieta com ferro, ela irá
ameaçar ainda mais a biodiversidade de bananas e cultivos ricos em ferro além
de introduzir novos riscos ecológicos.
Se adotada,
a banana GM será cultivada em grandes monoculturas, tal como o algodão Bt, nas
plantações de banana da América Central. O governo e outras agências empurrarão
a falsa solução e nossa biodiversidade de alimentos ricos em ferro irá
desaparecer.
Além disso,
nossas variedades de banana nativas serão deslocadas e contaminadas. Estas
incluem Nedunendran, Zanzibar, Chengalikodan e a variedade Manjeri Nendran II.
A ideia de
uma “agricultura de nutrientes” composta por uns poucos nutrientes em
monoculturas de uns poucos cultivos já está sendo empurrada no nível das
políticas. O ministro das finanças indiano P. Chidambaram anunciou um projeto
de 36 milhões de dólares para as “nutrifazendas” em seu discurso do orçamento
de 2013. Os seres humanos precisam de biodiversidade de nutrientes,
incluindo a escala completa de micronutrientes e oligoelementos. Estes vêm dos
solos saudáveis e da biodiversidade.
Há um
impulso perverso entre a brigada da biotecnologia para que se declare uma
guerra contra a biodiversidade em seu centro de origem. Foi feita uma tentativa
de introduzir a berinjela Bt na Índia, que é o centro da diversidade das
berinjelas. O milho GM está sendo introduzido no México, o centro de origem do
milho. A banana GM está sendo introduzida nos dois países onde a banana é um
cultivo significativo e tem grande diversidade. Um é a Índia e outro é a
Uganda, o único país onde a banana é um alimento básico das dietas.
HarvestPlus é a aliança corporativa que está
empurrando a “biofortificação” – o cruzamento de plantas para aumentar seu
valor nutricional. Mas especialistas afirmam que a fortificação de nutrientes
nos alimentos pode levar a problemas insuperáveis: “(ela) pode fornecer
quantidades tóxicas de nutrientes para um indivíduo e também causar efeitos
colaterais associados, além das chances potenciais de que os produtos
fortificados ainda não serão uma solução para deficiências de nutrientes entre
as populações de baixa renda, que podem não ter os meios para adquirir o novo
produto, além das crianças, que podem vir a não consumir quantidades adequadas
deste”.
Os
cientistas australianos estão usando um vírus que infecta a banana como
promotor gênico [usado na construção de um evento transgênico]. Este pode se
espalhar através da transferência genética horizontal. Toda engenharia genética
usa genes de bactérias e vírus. Estudos independentes mostraram que há riscos
para a saúde associados com os alimentos GM.
Não há
necessidade de introduzir uma tecnologia perigosa num alimento pobre em ferro
como a banana quando temos tantas opções acessíveis, seguras e diversas que
correspondem às nossas necessidades de ferro.
Temos de
cultivar a nutrição aumentando a biodiversidade, não ‘fortificando’
industrialmente alimentos nutricionalmente vazios de alto custo ou colocando um
ou dois nutrientes em cultivos geneticamente modificados.
Não
precisamos desses experimentos irresponsáveis que criam novas ameaças para a
biodiversidade e para nossa saúde; não necessitamos de soluções de nutrientes
impostas por homens poderosos sentados em lugares distantes, que são totalmente
ignorantes da biodiversidade dos nossos campos e dos nossos pratos, e que não
terão de aguentar as consequências de seu poder destrutivo. Precisamos
colocar a segurança alimentar nas mãos das mulheres para que a última entre
elas e a última das crianças possam partilhar das dádivas de biodiversidade da
natureza.
Veja também em:http://pratoslimpos.org.br/
Cordel “A maldição dos Agrotóxicos ou o que faz o Agronegócio”
Veja mais na Página Pratos Limpos - Porque alimentação também é política
quarta-feira, 26 de junho de 2013
segunda-feira, 24 de junho de 2013
Fim das isenções fiscais para os agrotóxicos!!!!!
A Campanha Permanente Contra os
Agrotóxicos tem apoio de mais de 50 entidades nacionais que se uniram desde
2011 para sensibilizar a
população brasileira para os riscos que os agrotóxicos representam, e a partir
daí tomar medidas para frear seu uso no Brasil.
Assine nossa Petição!
A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos lançou
um abaixo assinado para banir do nosso país os agrotóxicos já banidos em outros
países. É inaceitável que o nosso país continue sendo a grande lixeira tóxica
do planeta. Por isso colabore:
- Assine a petição virtual
- Baixe e imprima o abaixo-assinado e papel e comece a colher assinaturas.
- Baixe e imprima o abaixo-assinado e papel e comece a colher assinaturas.
- Veja aqui a lista das substâncias que queremos banir, e as instruções para coleta de assinaturas. Participe!
Dossiê ABRASCO
Alguém ainda acha que agrotóxico não
faz mal? Veja nos dossiês da ABRASCO (parte 1, parte 2,parte 3) a devastação que os agrotóxicos e o
agronegócio vem causando à população brasileira.
Veja mais em: http://www.contraosagrotoxicos.org/
sábado, 22 de junho de 2013
O preço do progresso
Enquanto perante as recentes manifestações na Turquia foi imediata a leitura sobre as "duas Turquias", no caso do Brasil foi mais difícil reconhecer a existência de "dois Brasis". Mas ela aí está aos olhos de todos. A dificuldade em reconhecê-la reside na própria natureza do "outro Brasil", um Brasil furtivo a análises simplistas.
Boaventura de Sousa Santos
Com a eleição da Presidente Dilma Rousseff, o Brasil quis acelerar o passo para se tornar uma potência global. Muitas das iniciativas nesse sentido vinham de trás mas tiveram um novo impulso: Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente, Rio +20, em 2012, Campeonato do Mundo de Futebol em 2014, Jogos Olímpicos em 2016, luta por lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU, papel ativo no crescente protagonismo das "economias emergentes", os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), nomeação de José Graziano da Silva para Diretor-Geral da Organização da Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), em 2012, e de Roberto Azevedo para Diretor-Geral Organização Mundial de Comércio, a partir de 2013, uma política agressiva de exploração dos recursos naturais, tanto no Brasil como em África, nomeadamente em Moçambique, favorecimento da grande agricultura industrial sobretudo para a produção de soja, agro-combustíveis e a criação de gado.
Beneficiando-se de uma boa imagem pública internacional granjeada pelo Presidente Lula e as suas políticas de inclusão social, este Brasil desenvolvimentista impôs-se ao mundo como uma potência de tipo novo, benévola e inclusiva. Não podia, pois, ser maior a surpresa internacional perante as manifestações que na última semana levaram para a rua centenas de milhares de pessoas nas principais cidades do país. Enquanto perante as recentes manifestações na Turquia foi imediata a leitura sobre as "duas Turquias", no caso do Brasil foi mais difícil reconhecer a existência de "dois Brasis". Mas ela aí está aos olhos de todos. A dificuldade em reconhecê-la reside na própria natureza do "outro Brasil", um Brasil furtivo a análises simplistas. Esse Brasil é feito de três narrativas e temporalidades.
A primeira é a narrativa da exclusão social (um dos países mais desiguais do mundo), das oligarquias latifundiárias, do caciquismo violento, de elites politicas restritas e racistas, uma narrativa que remonta à colónia e se tem reproduzido sobre formas sempre mutantes até hoje. A segunda narrativa é a da reivindicação da democracia participativa que remonta aos últimos 25 anos e teve os seus pontos mais altos no processo constituinte que conduziu à Constituição de 1988, nos orçamentos participativos sobre políticas urbanas em centenas de municípios, no impeachment do Presidente Collor de Mello em 1992, na criação de conselhos de cidadãos nas principais áreas de políticas públicas especialmente na saúde e educação aos diferentes níveis da ação estatal (municipal, estadual e federal).
A terceira narrativa tem apenas dez anos de idade e diz respeito às vastas políticas de inclusão social adotadas pelo Presidente Lula da Silva a partir de 2003 e que levaram a uma significativa redução da pobreza, à criação de uma classe média com elevado pendor consumista, ao reconhecimento da discriminação racial contra a população afrodescendente e indígena e às políticas de ação afirmativa e à ampliação do reconhecimento de territórios e quilombolas e indígenas.
O que aconteceu desde que a Presidente Dilma assumiu funções foi a desaceleração ou mesmo estancamento das duas últimas narrativas. E como em política não há vazio, o espaço que elas foram deixando de baldio foi sendo aproveitado pela primeira e mais antiga narrativa que ganhou novo vigor sob as novas roupagens do desenvolvimento capitalista todo o custo, e as novas (e velhas) formas de corrupção. As formas de democracia participativa foram cooptadas, neutralizadas no domínio das grandes infraestruturas e megaprojetos e deixaram de motivar as gerações mais novas, orfãs de vida familiar e comunitária integradora, deslumbradas pelo novo consumismo ou obcecadas pelo desejo dele.
As políticas de inclusão social esgotaram-se e deixaram de corresponder às expectativas de quem se sentia merecedor de mais e melhor. A qualidade de vida urbana piorou em nome dos eventos de prestígio internacional que absorveram os investimentos que deviam melhorar transportes, educação e serviços públicos em geral . O racismo mostrou a sua persistência no tecido social e nas forças policiais. Aumentou o assassinato de líderes indígenas e camponeses, demonizados pelo poder político como "obstáculos ao desenvolvimento" apenas por lutarem pelas suas terras e modos de vida, contra o agronegócio e os megaprojetos de mineração e hidrelétricos (como a barragem de Belo Monte, destinada a fornecer energia barata à indústria extrativa).
A Presidente Dilma foi o termómetro desta mudança insidiosa. Assumiu uma atitude de indisfarçável hostilidade aos movimentos sociais e aos povos indígenas, uma mudança drástica em relação ao seu antecessor. Lutou contra a corrupção mas deixou para os parceiros políticos mais conservadores as agendas que considerou menos importantes. Foi assim que a Comissão de Direitos Humanos, historicamente comprometida com os direitos das minorias, foi entregue a um pastor evangélico homofóbico e promove uma proposta legislativa conhecida como “cura gay”. As manifestações revelam que, longe de ter sido o país que acordou, foi a Presidente quem acordou.
Com os olhos postos na experiência internacional e também nas eleições presidenciais de 2014, a Presidente Dilma tornou claro que as respostas repressivas só agudizam os conflitos e isolam os governos. No mesmo sentido, os presidentes de câmara de nove cidades capitais já decidiram baixar o preço dos transportes. É apenas um começo. Para ele ser consistente é necessário que as duas narrativas (democracia participativa e inclusão social intercultural) retomem o dinamismo que já tiveram. Se assim for, o Brasil estará a mostrar ao mundo que só merece a pena pagar o preço do progresso, aprofundando a democracia, redistribuindo a riqueza criada e reconhecendo a diferença cultural e política daqueles para quem progresso sem dignidade é retrocesso.
Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).
quinta-feira, 20 de junho de 2013
Chomsky: “Estou com os manifestantes do Brasil” #vemprarua #benscomuns #participaçãopopularnagestãodosbenscomuns #Occuppy
Avram Noam Chomsky. Foto: Camila Nobrega |
Camila Nobrega
Do Canal Ibase
Enviada a Bonn (Alemanha)
Enviada a Bonn (Alemanha)
Cercado de jornalistas e curiosos de
pelo menos 30 países, na noite desta segunda-feira (17/6), o linguista e
crítico político de renome mundial Avram Noam Chomsky, de 84 anos, caminhava
lentamente para se retirar da plenária após sua palestra no Forum Global de
Midia, em Bonn (Alemanha). Estava acompanhado de seguranças e
assessores que tentavam manter todos afastados e não parecia disposto a
responder mais indagações. Em uma fileira formada ao lado dele, consegui gritar
uma pergunta. Ao ouvir as palavras “Turquia” e “Brasil”, Chomsky virou-se para
mim, respondendo-a:
- Embora sejam protestos diferentes e
com suas peculiaridades, as manifestações nos dois países são tentativas
de o povo recuperar a participação nas decisões. É uma forma de ir contra
o domínio dos interesses de grupos econômicos. Acho ambos muito
importantes e posso dizer que estou com os manifestantes – disse o
linguista, entusiasta do movimento “Occuppy”, declarando apoio ao movimento
que toma as ruas de cidades brasileiras e também aos manifestantes turcos.
Ele tem razão ao tentar separar os
dois movimentos. Embora semelhanças pareçam gritar neste momento, devido ao
cunho popular de ambos os protestos, são países de contextos socioeconômicos
e culturais muito diferentes. Qualquer tentativa de relacioná-los pode ser
leviana, se não forem tomadas as devidas ressalvas.
Mas, há, no entanto, uma
característica que une brasileiros e turcos neste momento: a tentativa de
recuperar diferentes formas de liberdade e mostrar que a sociedade civil está
acordada. Durante seu discurso para cerca de duas mil pessoas, entre
jornalistas, autoridades europeias e pesquisadores do mundo inteiro reunidos
para o fórum que ocorre até esta quarta-feira, na pequena cidade de
Bonn, Chomsky afirmou que a ocupação da praça Taksim é um microcosmo
da defesa dos bens comuns.
- Trata-se de um movimento global
contra a violência que ameaça a liberdade em diferentes países. As pessoas estão
indo as ruas para defender bens comuns, aqueles que são compartilhados dentro
das sociedades. O capitalismo baseado na massificação de privatizações não
compreende a gestão coletiva, aí esta o problema. Os movimentos que ocorrem
neste momento são legítimos, na tentativa de recuperar a participação popular
na gestão destes bens.
Para além da dominação econômica
Chomsky discursa para mais de duas mil pessoas.
Foto: Camila Nobrega
O discurso de Chomsky esteve centrado
principalmente em uma crítica às estratégias de desenvolvimento
norte-americanas e ao poder das grandes corporações multinacionais atualmente.
Para o pensador, as privatizações de recursos básicos, alicerces dos
regimes neoliberais, alteram a relação dos cidadãos com o mundo a sua volta e
reduzem também a noção de bens comuns.
- Para muitas sociedades,
a propriedade privada se tornou aparentemente a única possibilidade de
divisão de territórios e recursos. Isso está acabando com essa
noção do que é comum – disse, ampliando a análise para a participação
social: – Existe um pensamento muito difundido em sistemas políticos e
econômicos pautados em ideais liberais que defende a manutenção do poder de
decisão nas mãos de poucas pessoas, que seriam o grupo mais “bem preparado” da
sociedade. Os demais seriam apenas espectadores. É contra isso que alguns
grupos estão lutando.
A base desse pensamento parte de um
dado bastante claro que Chomsky trouxe à tona: segundo ele, 70% da população
norte-americana, por exemplo, não tem qualquer influência sobre a política
nacional. Ou seja, a maioria da população não tem poder, por
exemplo, sobre políticas públicas que afetam suas vidas diariamente.
Autor de mais de 70 livros e
considerado um dos principais intelectuais vivos atualmente (a quantidade de
vezes que ele aparece em citações bibliográficas nos dias de hoje se assemelha
a de grandes filósofos, como Platão), Noam Chomsky é, na verdade, um grande
defensor da capacidade humana de criar e de se libertar de estruturas de
dominação. Seus pensamentos vieram a público no início da década de 1960,
quando ele fez uma crítica aberta a outros linguistas, atacando a noção de
behaviorismo, segundo a qual o ser humano aprende apenas por imitação. Chomsky
defendia, já àquela época, a existência de uma capacidade inata do ser humano
de se expressar, de diferentes formas.
Ao longo dos anos, ele foi adaptando
este pensamento a um contexto político e se tornou um dos mais vorazes críticos do sistema politico-econômico e também cultural dos Estados Unidos. Nascido na
Filadélfia, ele se tornou uma voz dissonante dentro do território
norte-americano.
Frente a uma plateia composta de
pessoas vindas de todo o mundo para a conferência em Bonn, mas majoritariamente de
europeus, o discurso de Chomsky pareceu soar um pouco anacrônico. Foi o que se
ouviu nos corredores. Não foi essa a interpretação, porém, de
participantes vindos de países africanos em desenvolvimento. Não houve
também anacronismo para os representantes turcos que estão por aqui, ou de
outras pessoas vindas da região que vive hoje a
Primavera Árabe. Para estes grupos, nos quais o Brasil
parece se incluir, uma fala de Chomsky ecoou:
- O termo democracia pode parecer
óbvio para alguns, e aí está a ameaça. Há vários tipos de democracia, várias
formas de aplicação deste conceito. O que podemos pensar é: este tipo de
democracia onde a esmagadora maioria da população não tem participação alguma é
a que queremos?
Não é preciso muito mais para
explicar o porquê de os representantes brasileiros, após o discurso de
Chomsky, terem se sentado à mesa com turcos, sul-africanos e outros
representantes de países cujos projetos de democracia e desenvolvimento estão
sendo contestados neste momento. Observando de outro continente as
manifestações que estão parando cidades brasileiras nos últimos dias, o
discurso do linguista não parece nem um pouco anacrônico.
Enviado por CIMI
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Brasil cultivará soja de Monsanto para China!!!!
Esta aprobación es crucial para nuestra empresa y para los agricultores brasileños", comentó Brett Begemann, presidente de Monsanto. Actualmente, en el programa 'Ground Breakers' de la empresa participan unos 1.000 agricultores dispuestos a cultivar semillas de soja transgénica de Monsanto en Brasil.
China es el mayor importador de soja brasileña, y Brasil es el segundo mayor productor mundial de soja después de EE.UU.
La variedad de soja resistente a plagas y herbicidas que ha aprobado China, llamada Intacta RR2 PRO, fue creada por Monsanto específicamente para el mercado internacional.
Monsanto espera que con la introducción del cultivo comercial de soja transgénica en Brasil empezará el cultivo por todo Sudamérica. En 2014 la empresa tiene planes de realizar pruebas con las semillas Intacta en Argentina antes de iniciar el cultivo comercial en este país en 2015.
Texto completo en: http://actualidad.rt.com/actualidad/view/97794-brasil-cultivar-soja-monsanto-china
Enviado por Sonia Mariza
Dois casos sérios em Mato Grosso (LIVROS PARA BAIXAR)
Baixe o livro e o caderno "Dois casos sérios em Mato Grosso. A soja em Lucas do Rio Verde e a cana-de-açúcar em Barra do Bugres”
Realização: Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (FORMAD)
Textos: Sergio Schlesinger
Fotos: Caio Bruno Oliveira
Coordenação do projeto: João Inacio Wenzel
LIVRO: http://www.formad.org.br/wp-content/uploads/2013/06/LIVRO_dois_casos_serios_agrocombustiveis_FORMAD.pdf
CADERNO: http://www.formad.org.br/wp-content/uploads/2013/06/CADERNOdois_casos_serios_agrocombustiveis_FORMAD.pdf
Sobre o FORMAD:
Realização: Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (FORMAD)
Textos: Sergio Schlesinger
Fotos: Caio Bruno Oliveira
Coordenação do projeto: João Inacio Wenzel
LIVRO: http://www.formad.org.br/wp-content/uploads/2013/06/LIVRO_dois_casos_serios_agrocombustiveis_FORMAD.pdf
CADERNO: http://www.formad.org.br/wp-content/uploads/2013/06/CADERNOdois_casos_serios_agrocombustiveis_FORMAD.pdf
Sobre o FORMAD:
O Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad) é uma rede que congrega uma diversidade de segmentos socioambientais do estado de Mato Grosso na defesa e promoção do meio ambiente. Desenvolve ações coletivas relacionadas às políticas públicas e promove debates para a
construção de alternativas de desenvolvimento.
O Formad foi fundado em 1992, tendo como objetivo defender o desenvolvimento sustentável do Mato Grosso, sob o princípio da inclusão social, democratização do acesso à terra, exploração sustentável dos recursos
naturais, conservação da biodiversidade dos biomas Pantanal, Cerrado e Amazônia e valorização da diversidade cultural.
É composto por entidades que atuam nas áreas de direitos humanos, meio ambiente, indigenismo, agricultura familiar, saúde e saberes populares, educação e direitos trabalhistas. Esta diversidade retrata a identidade do
Formad, que é a de conceber as questões ambientais e sociais de modo integrado.
A missão do Fórum contempla:
• Articular as organizações da sociedade civil com ideologias próximas para mobilizações coletivas;
• Desenvolver ações em rede;
• Monitorar as políticas públicas de modo crítico e propositivo;
• Mobilizar a sociedade civil para intervir nas questões políticas socioambientais e para transformar a realidade das populações vulneráveis;
• Ser contraponto ao modelo de desenvolvimento pautado no agronegócio, monocultura e concentração fundiária;
Destacam-se como público alvo do FORMAD a agricultura familiar, as populações tradicionais e indígenas no Mato Grosso.
Veja mais em:http://www.formad.org.br/?p=2428
Veja mais em:http://www.formad.org.br/?p=2428
#vemprarua contra os transgênicos e agrotóxicos no Brasil!!!
É uma montagem mas maravilhosa, numa das Marchas contra a Monsanto. Não tinha tanta gente assim mas quem sabe na próxima....
Nesse momento de indignação geral, considero importantíssima também a questão do agrotóxico, dos alimentos transgênnicos, do modelo agrícola agroquímico, da fome insaciável do agronegócio ameaçando Povos indígenas, camponeses, a nossa soberania alimentar, do campo e da cidade!!!!!
Foto de Terra Sem Transgênicos
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Rede de Mulheres publica sistematização de experiências agroecológicas na Amazônia
Acabou de sair da gráfica a sistematização de experiências agroecológicas e solidárias da Rede de Mulheres Empreendedoras Rurais da Amazônia (RMERA).
Foram incluídas atividades de mulheres de 9 estados: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato
Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
"Agradecemos e dedicamos este livro a todas as mulheres agricultoras, artesãs, ribeirinhas, quilombolas, indígenas, negras, trabalhadoras autônomas da cidade, assessoras, educadoras, ao GT mulheres da ANA, a FETAGRI, ao
MMNEPA, a FASE /Programa Amazônia, que se envolveram neste rico processo. E as parcerias com HEKS e ACTIONAID que fizeram com que nosso sonho se tornasse realidade".
“Esta publicação é resultado de um rico processo de formação com mulheres que resolveram colocar seus ideais em prática.
As experiências apresentadas foram sistematizadas
em encontros com trabalhadoras rurais dos nove Estados da Amazônia. Muito rico
este processo, que além de trazer a história dos trabalhos coletivos em
agroecologia desenvolvidos pelas mulheres, traz também suas subjetividades nas
relações familiares, seu papel na sociedade, suas relações com o conhecimento e
a própria atividade de sistematizar suas experiências. A Rede de Mulheres
Empreendedoras Rurais da Amazônia - RMERA, com esta publicação e outras ações
desenvolvidas visa contribuir com o fortalecimento, articulação e visibilidade
dos empreendimentos econômicos gerenciados por mulheres e ou mistos. Boa
leitura!”- Solange Aparecida de Oliveira -Secretária Executiva da RMERA.
“Esta publicação é resultado de um rico processo de formação com mulheres que resolveram colocar seus ideais em prática.
Veja documento completo aqui em pdf: RMERA
As mulheres são como as águas, crescem quando se encontram!
domingo, 16 de junho de 2013
Território em disputa: os perigos da economia verde para comunidades QUEM ESTÁ GANHANDO?
A ECONOMIA VERDE VERSUS A ECONOMIA DAS COMUNIDADES
Uma história dos povos da mata atlântica no Sul do Brasil-Paraná
Os caiçaras, agroextrativistas, pescadores, quilombolas, povos indígenas que sabem lidar com a natureza sobrevivem na pressão do agronegócio, pecuaristas de búfalos que chegaram a 50 anos na região. Nos anos 90, a empresa Boticário comprou área de floresta de 2 mil hectares para criar uma Reserva. Depois chegou a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS), junto com a "The Nature Conservancy", uma grande ONG norte-americana. A SPVS comprou mais de 18 mil hectares e transformou em Reserva para estoque de Carbono com o apoio de 3 empresas americanas (Chevron, General Motors e American Eletric Power) de US$ 18 milhões de dólares).
Resultado: COMUNIDADE IMPEDIDA DE ACESSO A FLORESTA E MANGUE.
Essas empresas poluem o ar e querem "estocar carbono" para compensar sua poluição, chamado projeto REED, que fazem parte da chamada ECONOMIA VERDE, alerta o Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais .
Para o Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais uma das coisas mais importantes para a economia verde, para o grande capital, as grandes empresas que tem interesse é a "venda de serviços ambientais" (vender o Carbono que está nas florestas, vender a água, a biodiversidade-FAZER NEGÓCIO). Quem tem interesse? Primeiramente as Grandes empresas que vem destruindo incessantemente e as grandes Ongs preservacionistas, com a ideia de que para preservar tem que tirar as pessoas. Para o Movimento pelas florestas isso é um contra senso pois sabemos que onde ainda há florestas no mundo tem povos tradicionais usando e mantendo pois dependem das florestas para sobreviver, sabem lidar com a natureza.
Resultado: impactos na segurança alimentar (são impedidos de fazer roça, pescar), êxodo rural, medo, insegurança, empobrecimento
Resistência: É animador ver que as comunidades estão reagindo, se organizando para voltar a ter acesso ao território e FAZENDO AGROECOLOGIA em parceria com o MST e Via Campesina!!!!! A importância das mulheres e jovens nesse processo é grande em Rio Pequeno.
Cuidado com o solo, cultivos orgânicos, sem agrotóxicos, diversificação de culturas, produção de abelhas nativas, adubação verde, trabalho coletivo....Hoje a ameaça é o modelo agroquímico de monocultivos e agrotóxicos.
Onde tem comunidades organizadas tem floresta preservada!!!!!
sábado, 15 de junho de 2013
FIX - possibilidade de autonomia dos Povos Indígenas do Xingu ameaçados por Belo Monte
A ONG FASE, através do Fundo Dema e do Fundo Amazônia, lançou Chamada Pública de apoio a pequenos projetos para Povos Indígenas da Região do Xingu pelo FIX (Fundo Indígena Xingu).
Vídeo mostra que as lideranças indígenas querem acessar o FIX, no seu tempo, com autonomia.
Clique aqui e veja vídeo com Uwira Xakriabá
Abaixo depoimento transcrito de mobilização dos "parentes" indígenas para acessarem o FIX, por Uwira, etnia Xakriabá, Associação Indígena Kirinapãn, município de Altamira (Pará) - 7 de junho de 2013.
Entrevista e imagens: Matheus Otterloo - Presidente do Fundo Dema-Fase Amazônia
_____________________________________
“Olá parentes, meu nome é Uwira,
sou da etnia Xakriabá, sou membro da Associação Indígena Kirinapãn, de
Altamira, aqui no Estado do Pará.
Hoje eu vim aqui para a gente conversar um
pouquinho sobre o FIX. Pra gente entender um pouquinho o que é o FIX. Porque
muitas vezes nas aldeias, nas Associações, os parentes perguntam: o que é o
FIX? Como é que ele surgiu? De onde apareceu? De quem é essa ideia? O que é
isso?
O FIX é o Fundo de Apoio aos Povos Indígenas do Xingu. O
FIX surge no momento em que o nosso Povo da Região do Xingu, embora eu mesmo
não tenha nascido no Xingu mas moro aqui a mais de 15 anos e me entendo hoje
como do Médio Xingu, vem sofrendo, sobretudo com a implantação da Usina
Hidrelétrica de Belo Monte, do desmonte, da tentativa de reformulação da FUNAI
e de todo esse processo que atropelou todo o nosso povo nesses últimos
anos, desde que voltou a se falar de Belo Monte e que se começou, de fato, a
construção dessa barragem e tudo que ela trouxe.
A gente precisa fazer esse apanhado mais histórico do que
vem acontecendo para a gente entender bem o que é o FIX e qual é a proposta do
FIX. Que é um Fundo, de fato, indígena porque ele anda na contramão de todo o
processo relacionado a Belo Monte.
Plano Emergencial de Belo Monte-impactos sobre a organização indígena: Todos os parentes se lembram que nós começamos nesse
processo, com o chamado Plano Emergencial que colocava 30 mil Reais em cada
aldeia sem distinção de quantas pessoas tinha, de quantas aldeias tinham, e a
gente pulou de 17 aldeias para 37 em pouco tempo. Há aldeias que ainda estão
desestruturadas, a maioria delas sem água, algumas sem luz, com situações
complicadas. Desde a implantação desse projeto, todo nosso povo se voltou pra
isso. Nesse sentido da organização política, da forma como vínhamos caminhando,
houveram impactos muito negativos sobre nossa organização política e mesmo a
organização de cada comunidade e vocês sabem disso melhor do que eu, da falta
que os homens que estão sempre nas reuniões, então as roças acabam não saindo,
ou saem menores do que deveriam, ou as pessoas não estão na época de queimar
essas roças, ou na época da colheita, a farinha não está saindo porque é
reunião, reunião, reunião... E aquele Plano Emergencial de 30 Mil que enchia
nossas aldeias de coisas que muitas vezes nós não precisávamos e da retirada de
uma certa autonomia que nós tínhamos e que até ela, foi nos sendo tirada, a
partir do momento que a gente nem podia escolher o que iria comprar, com um
recurso que, teoricamente, era nosso. A FUNAI precisava decidir. Vocês se
lembram dessas falas: “vocês só vão comprar aquilo que eu autorizar. E de
outras que surgiram nesse processo.
E o FIX nasce justamente nesse meio, na contramão de tudo
isso. Como um Fundo para pequenos, projetos pensados nas nossas comunidades,
pro desenvolvimento das nossas comunidades, a partir de uma perspectiva que a
gente precisa dar um passo de cada vez. Trabalhar com coisas, não pequenas, mas
com coisas do nosso tamanho. Até que a gente cresça nesse caminho e possa
desenvolver projetos maiores.
Autonomia para os Povos: O FIX, ele tem entre vários outros méritos que eu
considero, o grande mérito de mexer com a nossa autotomia. De nós andarmos sem
estarmos escorados ou só por conta da construção da hidrelétrica ou de uma
estrada ou do que quer que seja. É o nosso desenvolvimento por nós mesmos. Não
porque agora vão fazer uma barragem no quintal da nossa casa e aí nós passamos
a ser vistos e passamos a existir e, em parte, porque as nossas opiniões acabam
não sendo consideradas. O FIX nasce nesse momento, dessa situação toda
política, como uma proposta de autonomia, com uma proposta da gente direcionar.
Que projetos nós queremos fazer? Não tem que ser o projeto que o técnico da
Empresa A, B, C ou D veio e disse que é viável pra nossa aldeia. Não tem que
ser o projeto que a FUNAI acha que a gente tem que fazer. É um projeto que
respeita a nossa opinião, a nossa posição, que respeita as nossas instituições.
O FIX trabalha com as organizações indígenas. Os projetos são enviados pelas
organizações indígenas, aprovados por um Comitê Gestor que é formado, na
sua maioria, por indígenas, acompanhado também por indígenas, E isso nos dá
essa autonomia". Nós não precisamos ir atrás da autorização da FUNAI, se a
FUNAI concorda ou não que a gente quer caminhar para a direita ou pela
esquerda. A decisão é nossa!
Estrada de possibilidades na contramão da Tutela: O FIX
é esta estrada das nossas possibilidades, daquilo que nós podemos fazer. De
onde podemos chegar? Na contramão dos megaprojetos, megaempreendimentos, que é
Belo Monte e tudo o que ela representa pra nossa região. E que a gente já está
vendo que cada dia anda mais devagar. Que as obras de saneamento básico ainda
não saíram, que as escolas ainda não foram construídas, que o Plano Emergencial
já terminou a um ano e que nada do Plano Básico Ambiental começou ainda. E isso
vai acabar um dia. Tudo isso tem começo, meio e fim. É como se fosse uma bolha
que uma hora vai estourar. E depois a gente vai precisar andar com as
próprias pernas.
O FIX é esta chamada a consciência, se a gente ficar no
colo da Norte Energia ou de quem quer que seja, do governo por muito tempo, a
gente pode esquecer como é que a gente usa as pernas. O FIX vem na contramão
da tutela que é negada por um lado e reforçada pelo outro. Vem na
contramão do paternalismo a partir do momento em que ele trabalha com nossos
projetos, em que somos nós, avaliando, encaminhando, acompanhando esses
projetos.
Lado a lado como parceiros: É uma tentativa pequena mas uma tentativa firme de nós termos autonomia, de nós caminharmos por nós mesmos, com respeito, como parceiros, caminhando lado a lado, nunca dando a mão e puxando a gente. Parceiro anda lado a lado. É essa nova realidade que a gente quer construir, de caminharmos como parceiros, com respeito, nos olhando de lado a lado. Não de cima pra baixo. Não sendo tratados como os incapazes, os tutelados, os que merecem pena, os que merecem que a gente diz, que se tenha dó, não! Com respeito a nossa dignidade como Povos Indígenas deste país. Por conta de toda história de colonização merecem respeito e consideração. É isso que nós como Povos Indígenas merecemos.
Lado a lado como parceiros: É uma tentativa pequena mas uma tentativa firme de nós termos autonomia, de nós caminharmos por nós mesmos, com respeito, como parceiros, caminhando lado a lado, nunca dando a mão e puxando a gente. Parceiro anda lado a lado. É essa nova realidade que a gente quer construir, de caminharmos como parceiros, com respeito, nos olhando de lado a lado. Não de cima pra baixo. Não sendo tratados como os incapazes, os tutelados, os que merecem pena, os que merecem que a gente diz, que se tenha dó, não! Com respeito a nossa dignidade como Povos Indígenas deste país. Por conta de toda história de colonização merecem respeito e consideração. É isso que nós como Povos Indígenas merecemos.
Sempre dispensamos aqueles que não são nossos parentes,
talvez, por isso chegamos a condição a que chegamos.
A gente espera ter no FIX esse apoio firme dos parentes.
Esse apoio é manifesto na participação, no fortalecimento dessa ideia de que
nós precisamos romper com a tutela, com o paternalismo e andar rumo a
autonomia. Isso é o que prevê a Constituição Brasileira, a Convenção 169 da
OIT, que são leis que foram os brancos que fizeram. Nós não participamos da
elaboração delas. Que eles então observem as leis que eles fizeram. E que nos
respeitem como a gente tem procurado respeitar nesses 500 anos, desde que eles chegaram
aqui".
Veja mais sobre a Chamada na Página do Fundo Dema: http://www.fundodema.org.br/site/
10 Anos de Luta e Resistência
Por Justiça Ambiental na Amazônia
Vejam uma experiência exitosa apoiada pelo
Fundo Dema com artesãos
Munduruku de Itaituba-PA
Vejam uma experiência exitosa apoiada pelo
Fundo Dema com artesãos
Munduruku de Itaituba-PA
sexta-feira, 14 de junho de 2013
Comida: Patrimônio histórico, cultural e imaterial
A crise
alimentar não é uma crise apenas alimentar, mas uma crise de sistema, ou seja,
estrutural, que está relacionada com a concentração da produção de commodities
e com o abastecimento de alimentos nas grandes cadeias de supermercados”,
afirma a Secretária Executiva do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança
Alimentar e Nutricional – FBSSAN.
Questionar
“que alimentos estamos comendo ou não estamos comendo” permite entender “como o
sistema alimentar se estrutura e determina o que as pessoas comem ou deixam de
comer”, aponta Vanessa Schottz à IHU On-Line. Secretária Executiva do Fórum
Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional – FBSSAN, ela chama
a atenção para a “padronização dos alimentos, que passam por um processo de
industrialização crescente, tornando esses alimentos artificiais”.
Na
entrevista a seguir, concedida por telefone, ela propõe rediscutir o conceito
de qualidade e segurança em voga no código sanitário brasileiro. A qualidade
dos alimentos, ressalta, “não pode ficar restrita a essa visão de assepsia e de
somatória de nutrientes. (...) Temos de pensar numa perspectiva de assegurar o
acesso das pessoas à alimentação em quantidade, mas também em qualidade. Não
podemos falar de qualquer alimento, mas sim de alimentos que promovam a saúde,
a segurança alimentar e nutricional. Por isso, enxergamos a Política Nacional
de Agroecologia, lançada recentemente, como uma política que precisa ser
fortalecida para apoiar a transição desse modelo”.
Vanessa
Schottz é secretária Executiva do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança
Alimentar e Nutricional – FBSSAN.
Confira a
entrevista.
IHU On-Line
– Quais foram as discussões centrais do 7º Encontro Nacional do Fórum
Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional – FBSSAN?
Vanessa Schottz – O encontro centralizou a discussão em torno
da questão: Que alimentos estamos comendo ou não estamos comendo? Essa
discussão tem várias possibilidades de reflexão. Entre elas, entender como o
sistema alimentar se estrutura e determina o que as pessoas comem ou deixam de
comer. Diante desta reflexão, concluímos que a crise alimentar não é uma crise
apenas alimentar, mas uma crise de sistema, ou seja, estrutural, que está
relacionada com a concentração da produção de commodities e com o abastecimento
de alimentos nas grandes cadeias de supermercados.
Quando nos
questionamos sobre quais alimentos estamos comendo, nos damos conta do processo
de envenenamento, uma vez que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do
mundo e, a reboque, de transgênicos. Ao mesmo tempo, percebemos que tem um
processo de padronização dos alimentos, que passam por um processo de
industrialização crescente, tornando esses mesmos alimentos artificiais.
Discutimos
também as normas sanitárias brasileiras, as quais tratam a pequena produção, os
alimentos artesanais e tradicionais como indústria. Isso resulta num processo
de padronização, que vai contra a soberania alimentar. Não defendemos uma
flexibilização da norma, para que tenha uma perda na qualidade dos alimentos.
Pelo contrário, queremos rediscutir esse conceito de qualidade e segurança em
voga no atual Código Sanitário brasileiro, porque a qualidade dos alimentos
também está relacionada com a contaminação dos agrotóxicos, com a produção de
alimentos transgênicos. A qualidade não pode ficar restrita a essa visão de
assepsia e de somatória de nutrientes. Precisam ter normas adequadas para a
produção familiar, artesanal e tradicional, de forma a permitir que os
consumidores consigam ter acesso a esses alimentos.
IHU On-Line – Em que consiste a compreensão do alimento
como patrimônio cultural?
Vanessa Schottz – Nós valorizamos e fortalecemos a iniciativa
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN em reconhecer
alguns ofícios, como o das baianas, que fazem o acarajé, e todo esse processo
produtivo como um patrimônio do Brasil. Então, defendemos que, como a comida
faz parte de um patrimônio histórico de um povo, todo o modo de fazer precisa
ser reconhecido como um patrimônio cultural, imaterial e protegido para que não
ocorra um processo sem precedente de padronização. A relação da dimensão cultural
com a segurança alimentar e nutricional é um tema que ainda precisa ser
explorado, mas que pode ser estruturante na medida em que nos ajuda a discutir
o processo de produção alimentar, uma vez que, quando estamos falando desses
alimentos tradicionais, estamos falando de um modo de saber fazer que é único,
que tem a ver com o saber fazer que se passa de geração em geração e que tem
tudo a ver com a identidade cultural, com o local, com o bioma.
O processo
de expropriação do território indígena, de desestruturação dos modos de vida
das comunidades, são ações que ferem a soberania alimentar e fazem com que
perdemos o nosso patrimônio alimentar, seja pela extinção de alguns alimentos,
seja pela tomada dos territórios pela monocultura. A comida é central para a
construção da identidade dos povos, e todo esse processo de padronização
alimentar que vem acontecendo também contribui para a perda da diversidade e
para a padronização da cultura.
IHU On-Line – Como avalia o processo de produção de
alimentos no país?
Vanessa Schottz – Ao fazer uma análise do sistema alimentar,
percebemos que tem havido cada vez mais um aumento da produção de commodities,
de grãos para a exportação, e isso tem tomado os territórios, aumentado o
consumo de agrotóxicos e o uso de sementes transgênicas. Há uma concentração na
cadeia produtiva de alimentos. Ao mesmo tempo, percebemos que esse processo não
está descolado do consumo. O agronegócio desestrutura os modos de vida e
transforma o lugar em um não lugar.
Ficamos
preocupados ainda com o fato de o Brasil liberar agrotóxicos que foram
proibidos em vários países. Na ponta do consumo, percebemos também que tem uma
estratégia de mídia destinada ao público infantil, que estimula o consumo de
uma série de alimentos que prejudicam a saúde, ricos em açúcar, gordura e
sódio. O encontro apontou o aumento da obesidade no país, especialmente entre
crianças e adolescentes.
IHU On-Line – Que avaliação faz das políticas públicas na
área alimentar?
Vanessa Schottz – A carta política do encontro reconhece que as
políticas públicas na área alimentar tiveram avanços nos últimos anos,
especialmente no enfrentamento de uma das dimensões dos direitos da
alimentação, que é o combate à fome. Foi aprovada a Lei Orgânica de Segurança Alimentar
e Nutricional em 2006. Conseguimos incluir, em 2011, o direito humano à
alimentação na Constituição Federal. Aprovamos, em 2009, a Lei da Alimentação
Escolar, que obriga os municípios e os estados a utilizarem no mínimo 30% do
valor transferido pelo governo federal para comprar alimentos da agricultura
familiar. Essa política atende mais de 40 milhões de escolares por dia, e faz
desse programa uma ação estruturante para a segurança alimentar porque, por um
lado, fortalece a produção de alimentos e a geração de renda para a agricultura
familiar e, por outro, insere no cardápio escolar uma alimentação saudável,
composta de alimentos frescos como frutas, verduras e hortaliças.
Com isso
podemos dizer que houve alguns avanços importantes no campo institucional da
segurança alimentar, embora permaneçam muitos desafios, como o acesso à terra
aos camponeses, a ocupação dos territórios pelos indígenas e quilombolas,
porque a terra é o maior meio de produção de alimentos. Outro desafio é a
questão de estruturar um novo modelo de produção de alimentos. Entre as
alternativas que estão sendo construídas, tem a agroecologia, que produz
alimentos sem venenos e de forma diversificada, respeitando os biomas e
conservando a biodiversidade. O desafio é fazer a transição do modelo de
produção atual, que é intensivo na mecanização, baseado na monocultura, no uso
intensivo de agrotóxico, para um modelo agroecológico.
A segurança
alimentar nutricional é uma pauta ainda estratégica. E mesmo com os avanços
para enfrentar o problema da fome, ela [a fome] não foi totalmente vencida.
Existe aí um desafio grande que é melhorar a qualidade da alimentação.
Defendemos, portanto, o direito a uma alimentação adequada e saudável. Nesse
aspecto, os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, é uma
estratégia válida para o enfrentamento da pobreza.
IHU On-Line – Quais políticas poderiam reverter o quadro
da fome no mundo?
Vanessa Schottz – Temos de pensar numa perspectiva de assegurar
o acesso das pessoas à alimentação em quantidade, mas também em qualidade. Não
podemos falar de qualquer alimento, mas sim de alimentos que promovam a saúde,
a segurança alimentar e nutricional. Por isso, enxergamos a Política Nacional
de Agroecologia, lançada recentemente, como uma política que precisa ser
fortalecida para apoiar a transição desse modelo.
Também
apostamos na agricultura urbana, ou seja, na produção de alimentos nos espaços
urbanos e teleurbanos. Essa agricultura deve ser valorizada, protegida e
precisa de políticas públicas que a promovam, porque ela cumpre um papel
central na Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Seja porque
ela permite o acesso ao alimento pela via do autoconsumo, seja porque ela está
ajudando a discutir a democratização e a redemocratização dos espaços coletivos
e o uso das cidades.
IHU On-Line – Gostaria de acrescentar algo?
Vanessa Schottz – Gostaria de ressaltar outra pauta importante,
que tem a ver com a leitura que nós fizemos do sistema alimentar: a questão da
regulação da publicidade de alimentos, principalmente aqueles voltados para a
população infantil. Tem uma discussão sobre até que ponto seria censura ou não
regular a publicidade das indústrias. Como entendemos que a publicidade é uma
ação econômica, ela tem fins econômicos e, portanto, é passível de ser regulada
pelo Estado, para que ele possa proteger o direito humano à alimentação e o
direito à saúde, principalmente do público infantil. Consideramos estratégico
avançar na regulação da publicidade de forma a proteger esse público, porque
estudos mostram que a publicidade exerce influência sobre as escolhas
alimentares.
(*) Fonte: Instituto
Humanitas Unisinos.
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