quinta-feira, 23 de maio de 2013

O que os seus filhos comem?

Ilustração da Revista da ABESO

Mariana Claudino
do Canal Ibase
A obesidade triplicou em 20 anos em todo o mundo e, cada vez mais, as crianças fazem parte desta estatística. Pensando neste quadro preocupante e crescente, o chef inglês Jamie Oliver criou o Food Revolution Day, que aconteceu nesta sexta-feira, dia 17, e tem como objetivo chamar a atenção das pessoas sobre a importância de uma alimentação autêntica e saudável – um momento de reflexão e alerta para os péssimos hábitos alimentares. Oliver, aliás, já pediu ao primeiro-ministro britânico que introduza aulas de culinária e educação alimentar para alunos dos 4 aos 14 anos. O Food Revolution Day acontece em 504 cidades do mundo. Aqui, ele é realizado no Rio de Janeiro e em São Paulo, com eventos locais: workshops e almoços coletivos para a promoção de hábitos baseados em alimentos que não vêm em latas, garrafas, caixinha e saquinhos. Mas e quem não tem nem o que comer e passa por sérias privações? Como lidar com esta situação e como alertá-los?
Segundo o consultor do Ibase para o tema de segurança alimentar e combate à pobreza, Francisco Menezes, este tipo de ação é válida para alertar as pessoas. É preciso, no entanto, levá-lo a todas as camadas sociais.
- O enfrentamento deste problema exige medidas integradas, que vale para todas as classes sociais. Falar em educação alimentar para os mais pobres sem condições de consumir só produz culpa. As mães de camadas mais baixas sabem o que é um alimento saudável. As frutas podem ser baratas, mas para quem tem o orçamento na conta não é bem assim. É preciso continuar o esforço e gerar condições para estas pessoas exercerem o seu direito à alimentação saudável. Como falar em alimentação orgânica com estas pessoas? Alimentação orgânica é cara até para a classe média – ressalta Chico Menezes, consultor do Ibase para o tema segurança alimentar e combate à pobreza.
Nem todas as escolas brasileiras cumprem à risca a determinação que proíbe a venda de balas na cantina. E a lei nº 11.947, que determina que no mínimo 30% da merenda escolar sejam compradas diretamente de agricultores familiares – o que reforçaria a agricultura familiar em R$ 600 milhões – está longe de ser cumprida plenamente.
- No caso do Brasil, o que mais preocupa realmente é a obesidade e o sobrepeso nas camadas de menor renda, o que vêm aumentando nos últimos 20 anos. A obesidade nas camadas mais ricas é diferente da obesidade na população de baixa renda – compara Menezes: – á vários fatores que levam à obesidade. Nas camadas mais pobres, o problema está associado ao consumo de alimentos mais baratos e que trazem a sensação de saciedade. E apenas agora alguns pesquisadores levam em conta a experiência da fome. Pais e avós não querem que as crianças da família passem pelo que passaram, por não ter a comida para comer. E acabam fazendo uma reserva no organismo para combater as lembranças da carência – analisa Menezes.
A tendência é que o problema piore ainda mais em todas as regiõe. Segundo o IBGE, o excesso de peso e a obesidade são encontrados com grande frequência na infância, a partir de 5 anos, em todos os grupos de renda e em todas as regiões brasileiras. O documentário “Muito Além do Peso”, lançado em novembro do ano passado, dirigido por Estela Renner e patrocinado pelo Instituto Alana, trata do tema obesidade infantil e revela que já há no país uma geração de crianças condenada a morrer cedo ou ter problemas de saúde em função de maus hábitos alimentares: uma em cada três já está com sobrepeso e cerca de 15% são obesas.
Menezes explica que, entre os brasileiros de baixa renda, o fator biológico também contribui negativamente:
- Aqueles que vivem uma situação de desnutrição são mais propensos a se tornar obesos, porque o metabolismo fica mais lento. Com isso, temos uma junção de fatores psicológicos e biológicos.

Publicidade

A publicidade no Brasil também é abordada como um fator negativo em “Muito além do peso”.- O Brasil é de um liberalismo sem tamanho em relação à publicidade de alimentos. Todos os dias, todas as noites, a televisão despeja uma série de anúncios que associam alimentos não adequados com satisfação, status, beleza e cores. Os grupos empresariais que têm interesse na manutenção destes esquemas não querem abrir mão desta publicidade, do “brinquedinho” na comida. Estamos numa guerra desigual  alerta o consultor do Ibase.Para Menezes, a diversidade cultural do Brasil pode ser um ponto positivo na busca para uma saída. O alimento, segundo ele, é cultura. E o Brasil tem uma riqueza alimentar com diferentes receitas de produtos locais. A questão da alimentação saudável deve ser associada à cultura e ao prazer.

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