Desafios da segurança alimentar no
Brasil
São Paulo. Um novo modelo de produção de alimentos, baseado na
agroecologia, sem o uso de sementes transgênicas, agrotóxicos e fertilizantes
químicos, em pequenas propriedades familiares, e a regulação do abastecimento e
distribuição são os maiores desafios para a segurança alimentar no Brasil.
- É inadmissível continuarmos líderes no ranking do
consumo de agrotóxicos, financiando esse setor com a isenção de impostos e
ainda termos de ouvir declarações como as da senadora Kátia Abreu, da bancada
ruralista, de que o pobre precisa comer, sim, comida com agrotóxico porque é
mais barato - disse Vanessa Schottz, técnica da ONG Federação dos Órgãos
para Assistência Social e Educacional (Fase) e secretária executiva do Fórum de
Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN),
completando, em seguida: - Em vez disso, precisamos democratizar o acesso
à terra, regionalizar a distribuição de alimentos saudáveis e apoiar feiras
livres, que permitem que alimentos mais frescos e baratos cheguem à mesa da
população.
Para discutir esses e outros temas relacionados aos
impactos e desafios do atual sistema, integrantes do FBSSAN de todo o país,
redes, movimentos sociais e outras instâncias estratégicas vão se reunir em seu
sétimo encontro nacional, de 4 a 6 de junho, em Porto Alegre. A programação
inclui painéis para discutir a crise alimentar, a dimensão pública do
abastecimento, oficinas temáticas sobre agricultura urbana, normas sanitárias para
a produção familiar e artesanal, agrotóxicos e transgênicos, além de rodas de
conversa para o debate público sobre as dimensões estratégicas de luta pela
comida.
- Discutir os alimentos que estamos comendo ou não
é estratégico. Da mesma maneira que avançamos na construção do marco legal do
Direito Humano à Alimentação e no fortalecimento e institucionalização de
políticas públicas estratégicas, ainda persistem ameaças a esse direito – disse
Vanessa.
Em fevereiro de 2010, o alimento foi incluído no
rol dos direitos constitucionais pela emenda constitucional 64, fruto de um
abaixo-assinado liderado pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional (Consea), com mais de 50 mil assinaturas. Com a aprovação da
proposta, a soberania alimentar e nutricional passou a ser um dever do Estado,
e não mais política de governo.
Outra conquista é a Lei 11.947, de 2009, conhecida
como lei da alimentação escolar, que determina a utilização de, no mínimo, 30%
dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE) para alimentação escolar, na compra de produtos da agricultura familiar
e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações. Têm prioridade os
assentamentos de reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades
quilombolas. A compra dos alimentos deve ser feita, sempre que possível, no
mesmo município das escolas.
Segundo o Fórum, o modelo de abastecimento e
distribuição de alimentos, cada vez mais controlado pelo agronegócio, pela
indústria e cadeia de supermercados, acelera o processo de ‘commoditização’ e
artificialização dos alimentos, de empobrecimento da base alimentar e no
aumento do preço dos alimentos.
Vanessa lembra um estudo da Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) segundo o qual, apesar de toda a
diversidade vegetal brasileira, a base da alimentação está em três alimentos:
trigo, soja e milho.
- Todos são produzidos de maneira mecanizada, em
grandes extensões de terra, no sistema de monocultura, com uso de agrotóxicos,
e entram na industrialização da maioria dos alimentos consumidos.
Outras grandes questões, segundo ela, é se há uma
crise alimentar ou é o próprio sistema alimentar que está em crise; quais são
as causas principais, de que maneira essa crise se expressa no Brasil, se as
políticas públicas respondem ou não aos desafios impostos por esse sistema.
- É muito importante que a sociedade civil entenda,
debata e critique os impactos do atual sistema alimentar sobre a soberania e
segurança alimentar da população brasileira – disse.
Neste mês, estão sendo realizadas as etapas
estaduais, como a de Goiás, que ocorreu no último final de semana. Na avaliação
da professora do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Goiás e
presidenta do Conselho de Segurança Alimentar daquele estado, Dulce Cunha, o
Brasil avançou muito no combate à fome. Mas ressalvou:
- Ainda existem bolsões de pobreza onde há pessoas
sem acesso à qualidade diária mínima de nutrientes. E também não avançamos no
sentido de garantir a alimentação como um direito humano. Basta ver que o
Brasil é o que mais consome agrotóxicos ao mesmo tempo em que a obesidade
infantil vem aumentando muito – disse.
Segundo ela, é necessário uma leitura crítica do
sistema de produção e abastecimento, bem como pensar estratégias para assegurar
a soberania alimentar nacional do Brasil.
- A ideia é ir além da garantia de acesso de todos
ao alimento. A alimentação tem de ser entendida como um direito humano,
assegurando que as pessoas tenham alimentos de qualidade produzidos sem venenos
e que respeitem os hábitos alimentares regionais e a idade dos indivíduos.
O Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança
Alimentar e Nutricional (FBSSAN) foi criado em 1998. Reúne organizações, redes,
movimentos sociais, instituições de pesquisa, profissionais da saúde, nutrição,
direitos humanos, agroecologia, agricultura familiar, economia solidária e de
educação popular na luta pelo Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) e
pela soberania alimentar.
Enviado por:http://www.canalibase.org.br/novo-modelo-de-producao-de-alimentos-e-desafio-do-brasil/
Enviado por:http://www.canalibase.org.br/novo-modelo-de-producao-de-alimentos-e-desafio-do-brasil/
Nenhum comentário:
Postar um comentário