Jurema Werneck: “Na reunião de 25 de janeiro do Conselho Nacional de Saúde (CNS), apenas dois segmentos se mostraram favoráveis à MP 557 como estava, incluindo o nascituro: o próprio governo e a CNBB”
por Conceição Lemes
Desde o final de 2011, quando entrou em cena a Medida Provisória 557, as feministas têm sido atacadas, desqualificadas (pessoal, técnica e politicamente), ridicularizadas. Motivo: terem se posicionado com firmeza contra a MP 557, hoje rechaçada quase unanimemente. A MP 557, que institui o cadastro nacional de gestantes, visa à redução da mortalidade materna.
Só que os detratores desconhecem que, nos últimos 30 anos, a questão da morte materna tem sido pautada e enfrentada no Brasil justa e basicamente pelos movimentos de mulheres. Por ano, cerca de 1.600 morrem por causa da gravidez – antes, durante ou nos primeiros 42 dias após o parto.
Em 2010, esse grave problema de saúde pública no país acabou participando da campanha presidencial de 2010. Eleita a presidenta Dilma Rousseff, ele se tornou uma das prioridades do seu governo.
“Ótimo que a presidenta tenha reconhecido que a mortalidade materna é uma demanda das mulheres”, avalia Jurema Werneck. “Só que, a partir daí, ela tem falhado, errado terrivelmente.”
“A MP 557 foi uma decisão errada da presidenta”, observa Jurema. “Além de não resolver a questão da morte materna e atropelar arrogante e explicitamente os sujeitos sociais e princípios fundamentais, essa escolha do governo trouxe para o centro do debate da saúde da mulher, de forma fortalecida, o que de pior a sociedade brasileira já produziu que são os conservadores xiitas, da extrema-direita cristã.”
Tanto que, na última reunião do Conselho Nacional de Saúde (CNS), em 25 de janeiro, apenas dois segmentos se mostraram favoráveis à MP 557: o próprio governo e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
“Eu não sei se o governo federal está baixando a cabeça para os setores ultraconservadores, se está derrotado, satisfeito e confortável nessa aliança, mas que está chocando o ovo da serpente, está”, adverte Jurema Werneck. “O governo Dilma não está vendo o ovo de serpente que está deixando chocar.”
Jurema Werneck tem autoridade e representatividade para dizer tudo isso. É médica, doutora em Comunicação, fundadora e coordenadora da ONG Criola. É a vice-presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), onde ocupa a vaga do movimento negro, representando a Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras, da qual é secretária-executiva. Desenvolve ações, projetos e pesquisas nas áreas de saúde da população negra, mulheres negras, bioética e racismo.
Veja entrevista da Vi O Mundo:http://www.viomundo.com.br/denuncias/jurema-werneck-o-governo-dilma-esta-chocando-o-ovo-da-serpente.html
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